sábado, 3 de maio de 2014

Um caso no Convento do Carmo de Lagos



Em 1621, uma postulanda foi protagonista de um escândalo que abalou a sociedade lacobrigense...


Os conventos religiosos, nesses tempos, eram ancoradouros para moças menos casadoiras, baixios para outras encalhadas e casas de reclusão para algumas devotas, mas todas tinham que pagar a sua estadia de uma maneira ou outra. A Igreja não estava pelos ajustes de financiar estas estadias, antes pelo contrário. Cabia a cada uma, não só provar que podia, mas efectivamente contribuir com a renda necessária à sua diária. Quem não pagava sofria as consequências que podiam chegar à expulsão do claustro.
Aldrabas dos portões do convento de Santa Cruz em Coimbra.
Às suas portas aparececia de tudo mas sempre do estrato social superior. Alguns conventos foram mesmo criados por conjuntos de mulheres, viúvas e solteiras, filhas família – expressão que queria dizer que as suas famílias tinham historial de serventia de cargos da república ou que tinham sido nobilitadas de alguma maneira –, mas que preferiam uma vida de reclusão protegida dos rigores da vida mundana.
Cada convento tinha o seu responsável espiritual que apascentava o seu rebanho, ouvia confissões e programava as devoções religiosas anuais. Às vezes mais de um paramentado frequentava determinados conventos que, pela colorida vida que levavam algumas das postulandas, criavam uma reputação menos conservadora, para dizer de alguma maneira!  Quando a movimentação e a actividade no convento se tornavam notórias o falatório começava e algumas cartas ou bilhetes eram escritos revelando a indignação da sociedade circundante e delatando denúncias, produto, quem sabe, de invejas.
Às vezes, o falatório era tal que as visitações eram antecipadas para investigação do que se estava a passar. Eram colhidos testemunhos e chamadas vizinhos a depor sobre as ocorrências. Foi este o caso do que se passou com Sebastiana Rebelo da Fonseca.
Nome: Diogo Rebelo e, por de baixo, assinatura de Alfaqueque-mor
Sebastiana era filha natural de Diogo Rebelo da Fonseca, 5.º e úlimo alfaqueque-mor dos reinos unidos de Portugal e Algarve por carta de 22 de Abril de 1598, e neta do 4.º alfaqueque-mor Vicente Rebelo e de Brites do Rio casados na Sé de Lisboa a 30 de Março de 1573.
Parece que este tipo de problemas relacionais acontecia na família. Brites do Rio nasceu bastarda sendo seu pai, Luís de Castro do Rio – pessoa grada e fidalgo de D. Sebastião – solteiro e sua mãe casada, coisa não tão comum. Acabou sendo legitimada por carta régia em Julho de 1578 pouco depois de casar, como se constata pelas datas.
O filho, Diogo Rebelo da Fonseca, nunca chegou a casar mas ainda assim nasceu Sebastiana filha natural de mulher solteira. Para completar o quadro Diogo ensandeceu.
Religiosidade forçada ou espontânea não faltava na família pois Diogo tinha mais três irmãos, duas freiras, Isabel e Violante e um clérigo Afonso, meio-irmão, sendo por isso Diogo herdeiro universal de seu pai. Suas tias já estavam num convento em Lagos. Que fazer com Sebastiana?
Provavelmente a solução acabou por passar pelo Convento das Carmelitas Calçadas de Lagos onde residiam suas tias.
O convento da irmandade das Carmelitas Calçadas de Lagos foi o segundo edifício da ordem do Carmo a ser construído em Portugal por iniciativa do padre Cristóvão Dias, depois do primeiro ter sido criado em Beja. Ficou terminado em 1554. A estrutura do convento era firme e foi construida de molde a proteger as freiras uma vez que o edifício se encontrava providencialmente extramuros em Lagos.
Sebastiana foi vivendo no Convento do Carmo que era visitado regularmente pelo senhor prior de Lagos, o licenciado Sebastião Pereira de Figueiredo. Vésperas puxa completas, matinas puxa laudes, tercia puxa sexta e lá pela noa já a coisa estava complicada.
Foi tal o falatório que houve visitação. Entre outros Gregório Dias

“dixe mais que as pessoas que frequentaõ o mosteiro das freiras de nossa senhora do Carmo desta cidade E que nelle tem amizade E continuaõ com ella saõ o prior sebastião pereira cõ huã filha de diogo rebello o Alfaqueque e Pêro Coelho Atalaya de huã Armação cõ huã filha de Rodrigo Rebello por nome Leanor da piedade o que elle declarante sabe por ser ermitaõ de /.../ freiras E os ver continuando a dita amizade ate ao prezente e mais não dixe E do costume disse nada[1] e asinou cõ o sor Bispo domingos de Carualho que o escreuy”,

conforme ficou registado nos autos de visitação. Rodrigo Rebelo era irmão de Vicente Rebelo e Leonor da Piedade sobrinha de Diogo Rebelo.
O prior viu-se forçado a solucionar o problema e não achou melhor solução que a de casar Sebastiana com o seu irmão, Agostinho Pereira de Sá, o que de facto aconteceu.
Dizer que foram felizes para sempre é forçar um pouco a realidade, mas de facto Sebastiana foi mãe de dois rebentos[2] sendo o mais velho Diogo Rebelo da Fonseca que nasceu a 23 de Novembro de 1622 e cujos padrinhos foram João Fernandes da Costa Rebelo e Violante Jaques, e que casou duas vezes: a primeira  vez com Sebastiana de Sousa com um filho, Francisco Morais Rebelo, e a segunda vez com Leonor Coelho Vieira que entre outros filhos houve a Vicente Ribeiro Cordovil, de quem falaremos adiante.
Ora Sebastiana enviuvou a 20 de abril de 1629 tendo Diogo 7 anos e sendo Isabel mais nova. Esta condição não era fácil e o habitual era encontrar novo marido o que aconteceu pouco depois pois o segundo marido, Manuel de Vilalobos Camacho, já lhe tinha dado uma filha, Isabel, em 1632 seguida de outros quatro entre os quais Vicente Rebelo de Vilalobos que nos interessa particularmente.
Ora uma filha deste Vicente, de seu nome Sebastiana Rebelo de Vilalobos acaba por casar, a 10 de Dezembro de 1687, com o seu primo Vicente Ribeiro Cordovil, acima, ambos netos da Sebastiana desta história e também ambos oitavos-avós do autor deste blog e de seus primos Leote Tavares (Lopo Alexandre, Francisco Rodo e Manuel Rodo), dos Amado Sousa Martins (Marta†, Concha, Luís, José e Nicas) e Amado da Cunha Guimarães (João Eduardo, Maria Isabel† e António Carlos) e das respectivas descendências.

Sebastiana Rebelo da Fonseca faleceu em Lagos a 14 de Novembro de 1677, com mais de 70 anos e com testamento no qual pede sejam rezadas missas por alma de sua mãe, que não nomeia deixando-nos na ignorância da sua identidade, e por seu "tio" o padre Sebastião Pereira de Figueiredo, entre outros encargos pios.

A vida é feita destes percalços que são o sal da estória e razão por que sabemos destes episódios que acabam por ser vidas muito vividas e pouco monótonas.
Para terminar ainda informo que o Convento do Carmo serviu como local de casamento e enterramento de muitas pessoas ao longo dos anos mas o edifício sofreu fortemente nas suas estruturas e fundações com o terramoto de 1755 tendo ficado muito danificado, morrendo 22 freiras e ferindo-se outras 43. O edifício foi depois reconstruído pelo bispo Frei Lourenço de Santa Maria[3], e hoje em dia está sob restauro. 

Igreja de Nossa Senhora do Carmo


Foi edificada no local onde anteriormente existia a Ermida de Nossa Senhora da Conceição. Estudos arqueológicos revelaram vestígios da antiga ermida, demonstrando que a construção data do século XIII e que foi escavada na rocha. Assim, há 800 anos, este já era um local de culto. O antigo Convento de Nossa Senhora do Carmo, de traça maneirista, barroca, é um dos poucos edifícios que atestam a permanência de casas religiosas na cidade. De planta longitudinal com coberturas diferenciadas de duas águas (nave), cúpula com lanternim revestida a telha (capela-mor) e de três águas (sacristia), e torre sineira na prumada do coro-alto. Na capela-mor ainda existe uma janela gradeada onde as freiras assistiam ao culto. Possui retábulo do altar-mor e altares laterais em talha dourada. A sacristia apresenta lambrim de azulejo do séc. XVII. Pavimento da nave com lápides sepulcrais com datas de 1619 e 1621 das quais se destaca a do capitão e alcaide-mor d'Alvor e a de D. Manuel d'Alencastre, governador do Algarve.


[1] O que quer dizer que não tem afinidade alguma ou lítigio com as pessoas alvo das declarações.
[2] Sua filha mais nova chamava-se Isabel Rebelo que casou com João de Abreu de Sousa.
[3] Giebels, Daniel, Igreja de Nossa Senhora do Carmo (Lagos). RADIX-Ministério da Cultura. http://radix.cultalg.pt/visualizar.html?contexto=18&id=3157

As fontes para este texto foram os os registos paroquiais de Lagos, documentos da Chancelaria da Torre do Tombo, memórias e um artigo de Miguel Maria Telles Moniz Côrte-Real publicado na revista Tabardo, p. 57-141 e alguma liberdade de pena.

Nota adicional explicativa: Vicente Rebelo da Fonseca, 4.º Alfaqueque-mor por confirmação de Filipe I no ano de 1583 [chancelaria de Filipe I, Liv. 3 fols. 203].Teve 45.000 réis de juro e tença em dois padrões [chancelaria de Filipe I, Livs. 2 e 3 fols. 209, 46 e 147] foi comendador de S. Salvador de Serrazes [Serrazes, São Pedro do Sul], na Ordem de Cristo e institui com sua mulher um morgado da terça de ambos, para o qual tomaram uma quinta no contio da Raposeira, [Lagos] onde está a igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, e umas terras contiguas ao paúl de Lagos as quais comprou a Diogo da Fonseca, e todas as terras que tinham no cabo de S. Vicente, a qual instituição de vínculo anexaram ao morgado de seu bisavô Estevão Rebelo, sob certas condições que constam do seu testamento cerrado em 19 de Dezembro de 1597, registado na Torre do Tombo, Liv. IV das Capelas da Coroa, fls 253 v.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

O Earl of Essex e a biblioteca do Bispo de Faro.



O Earl of Essex e a biblioteca do Bispo de Faro


Em 1596 uma expedição liderada conjuntamente pelo Earl of Essex e pelo Lord Howard of Effingham assaltou Cádis e Faro. Em Faro a biblioteca do bispo do Algarve foi saqueada e quatro anos depois o dito conde doou os livros a Thomas Bodley, bibliotecário da universidade de Oxforde. Estes livros estão presentemente na Bodleim Collection da Oxford Library. Este ataque fez parte dos 19 anos de guerra entre as coroas de Inglaterra e a dinastia dos Habsburgos ibéricos, de 1585 a 1604.

Para celebrar a ascensão ao trono na união das coroas de Espanha e Portugal em 1580 foi cunhada uma medalha com o texto Non sufficit orbis que inferia que a monarquia ibérica era universal. Para muitas pessoas, esta ideia caíu por terra em 1588 com a destruição da Invencível Armada mas presistiu em Espanha. A pretensão ibérica de hegemonia universal também atraíu o ódio dos povos de Marrocos e da Algéria que fizeram incursões periódicas no litoral algarvio e andaluz e as estruturas defensivas existentes na costa algarvia têm mais a ver com estes ataques de piratas do que com os ataques dos ingleses e dos holandeses.

A Guerra


A expedição de 1596 foi a segunda a ser efectuada no sul da península ibérica. Em 29 de Abril de 1587 Sir Francis Drake com uma armada de 23 navios tinha atacado Cádis e destruído mais de 20 barcos espanhóis. Foi desta incursão que se disse que “chamuscou” as barbas a Felipe II e que atrasou a saída da Armada Invencível por um ano. Drake não conseguiu desembarcar e continuar com a destruição enfrentando um grande exército espanhol. No seu trajeto de regresso aportou nas praias da Balieira, do Beliche e no Cabo de São Vicente assim como em Sagres. Tentou capturar Lagos em 25 de Maio mas a resistência portuguesa liderada por Fernão Teles de Meneses, governador e capitão general do Algarve, foi demasiado forte. Foi nesta circunstância que um inglês desconhecido fez o desenho, que chegou aos nossos dias, do famoso edifício no fim do mundo construido pelo Infante D. Henrique, O Navegador, o que providencialmente é o único plano que existe da Vila do Infante. Nesta sua viagem de retorno, o capitão Drake aterrorizou outras zonas da costa portuguesa e nos Açores capturou, a 24 de Junho, a Nau São Filipe. Já antes, em 1585, Drake tinha atacado e saqueado a Ribeira Grande e a vila da Praia no arquipélaogo de Cabo Verde.


A derrota da Armada Invencível custou à coroa Ibérica Unida não só homens, dinheiro e navios mas também a sua reputação e a sua autoconfiança. A habilidade da coroa ibérica de defender a sua linha costeira e as armadas carregadas de prata, especiarias e outros tesouros ficava seriamente comprometida. O monarca teve que convocar cortes e pedir mais dinheiro e ao fazê-lo demonstrou que as cortes de Castela tinham o poder e controlo dos gastos e despesas do reino. A Portugal foi pedido que também pagasse um imposto extraordinário para proteção dos seus combóios navais.

D. António Prior do Crato


No seguimento da derrota da armada os ingleses desembarcaram em Peniche em 1589 numa tentativa de ajudar D. António (1531-1595) a reclamar o trono ao qual tinha pretensões[1] mas o apoio popular necessário não existia. Há muitas semelhanças entre D. António e D. João, Mestre de Avis. Ambos eram filhos bastardos e foram aclamados reis de Portugal. Os opositores alegavam que a mãe de D. António era cristã-nova. Outros historiadores alegam que de facto houve o casamento de D. Luís e que era o seu carater morganático que o fazia secreto. D. António lutou na batalha de Alcácer Quibir e ao fingir ser pobre e de baixa extração escapou com o pagamento de um resgate pequeno. A sua pretensão ao trono foi desestimada pelo Cardeal D. Henrique mas recuperada depois da sua morte em 1580.  O reinado de D. António acabou com a ocupação dos Açores em 1583 pelas forças do marquês de Santa Cruz tendo-se tornado um peão nas mãos dos políticos internacionais durante os 12 anos seguintes. A rainha Isabel I de Inglaterra usou Drake para promover a rebelião em Portugal em 1589. D. António chegou a assinar cartas de corso a ingleses, franceses  e flamengos no intuito de saldar as suas dívidas com os lucros.

As campanhas inglesas


Os ingleses deram-se conta em 1589 que a costa ibérica e respectivos percursos eram fracamente defendidos e começou uma campanha de pirataria, concentrando a sua atividade na carreira da índia perto dos Açores. Apresaram 299 navios entre 1589 e 1591 o que rendeu £400.000, o equivalente à renda anual da coroa inglesa, sendo o rendimento nos anos subsquentes de £100.000.  No fim do reinado de Felipe II, em 1598, a armada espanhola na costa atlântica estava dividida em três bases distintas: Cádis, para proteger a costa atlântica entre o cabo de São vicente e o estreito de Gibraltar; Lisboa, para proteger a costa poente portuguesa entre o cabo de São Vicente e o Porto e a chegada dos Açores; e a Corunha, para proteger a Galiza e a baía de Biscaia. Ainda que houvessem milícias nomeadas para guardar a costa a tarefa de proteger toda a costa atlântica da Península Ibérica era evidentemente demasiado grande e os ingleses continuaram os ataques com impunidade.

O ataque a Cádis e Faro em 1596


Em abril desse ano começou a espalhar-se o pánico entre os comerciantes lisboetas com as notícias de que uma armada inglesa se preparava para atacar a cidade. Felipe II mandou barcos para vigiarem o canal da Mancha e em junho as informações eram tão preocupantes que a cidade ficou em alerta, as suas portas foram fechadas e Lisboa preparou-se para o cerco:
 “se ueyo a descobrir tanto a uinda dos Ingresses e serteza disso que à redea solta comesarão grandes e pequenos, altos e baxos a despeiar fazendas, molheres e filhos, chegando a não auer ia quem ouuesse barca nem andas nem caualgadura por nenhum dinheiro.”

A expedição de Robert Devereux, Earl of Sussex e Effingham, Earl of Nottingham saíu de Plymouth a 1 de junho e a 10 já estava ao largo da costa portuguesa. Capturaram três barcos espanhóis por quem souberam como estavam as defesas de Cádis. Chegaram à cidade a 1 de Julho dominaram vários barcos ancorados na baía, destruíram outros e, durante três dias, saquearam a cidade. O domínio da situação foi tão completo que permaneceram na baía de Cádis durante 16 dias.

A flotilha inglesa resolveu fazer aguada na costa algarvia. Se se tivessem feito ao mar dos Açores teriam capturado a nau São Pantaleão com uma carga avaliada em 800.000 cruzados a qual chegou a Lisboa a 8 de agosto. Governava então o Algarve o capitão general Rui Lourenço de Távora que reforçou as defesas de Lagos de igual modo que o bispo de Faro o fez com a sua cidade no seguimento das ordens recebidas de Lisboa.



O bispo de Faro nessa época era D. Fernando Martins Mascarenhas, recém empossado em 1595, tendo-se mantido no cargo até 1605. Segundo as suas palavras de 1605...

 as mulheres lamentam-se, as crianças choram, uns ocorrem às armas, outros agarram-se às suas coisas, a maior parte são tomados de medo aqui, sem armas ali, sem saber que resolução tomar com a mente perturbada. Os inimigos impiedosos, insolentes, soberbos, truculentos, irados, em pouco tempo põem tudo a ferro e fogo, e tudo destroem: as igrejas, as casa são roubadas e incendiadas.”


A esquadra inglesa chega ao largo de Lagos a 27 de julho mas pesando os prós e os contra de um ataque com resultado duvidoso, seguem viagem costa vicentina acima. Lisboa, sentiu-se ameaçada durante o resto do verão sendo o pomo de discórdia entre castelhanos e portugueses sobre o comando da cidade. No que respeita ao Algarve os custos dos ataques ingleses foram altos em termos de perdas imediatas e a médio prazo pelos custos de manter as guarnições e edifícios defensivos costeiros. Uma das perdas mais importantes foi a biblioteca da diocese de Faro que seguiu num dos barcos rumo a Inglaterra. 

A dita coleção de livros foi guardada por Essex até 1600 data em que a ofereceu a Thomas Bodley. Bodley tinha assumido a tarefa de reconstuir e renovar a biblioteca da universidade de Oxford à sua custa onde tinha sido professor. Os pedidos de doações de obras foram atendidos por Essex e dos 176 livros e 215 volumes oferecidos 65 títulos e 91 volumes eram garantidamente do Bispo de Faro uma vez que tinham a sua chancela a ouro nas respectivas capas. Não se sabe se todos os livros substraídos de Faro foram entregues a Bodley ou se alguns foram oferecidos a outras pessoas ou entidades ou permaneceram na posse de Essex. Sorte terem sido oferecidos quando o foram pois Essex foi executado a 25 de Fevereiro de 1601 na Torre de Londres por alta traição. Também é possível que outros livros tenham sido subtraídos por outras pessoas durante o ataque e desses nada se sabe. Como informação complementar há que salientar que uma coleção importantíssima de obras também tinha sido roubada na cidade de Cádis que representou a segunda mais importante coleção de livros oferecidos por Essex. 

Algumas informações sobre a oferta de Essex a Bodley. Vinte dos volumes subtraídos de Faro foram impressos na Península Ibérica sendo os restantes impressos ou em França, ou Alemanha ou Itália. A quase totalidade dos livros estava escrita em Latim e versavam Teologia, Direito e ensino.



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Texto livremente traduzido de um artigo escrito em inglês por Peter Kingdom Booker no site Algarve History Association e baseado, por sua vez, no texto A memória à Luz da História ou a Biblioteca doBispo do Algarve Revisitada por João Teles e Cunha, publicado pela universidade do Algarve em 2007.






[1] D. António era filho, natural ou legitimado, do infante D. Luís e neto do rei D. Manuel I. Teve numerosa descendência como o foi D. Manuel de Portugal que casou com  a condessa Emília de Nassau.