quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Descendência de Manuel José de Sousa Leote §4 e §5

Descendência de 
Manuel José de Sousa Leote 
e de sua mulher D. Benilde Sinclética Dourada da Silva 


§4

Lopo José Aguado Leote Tavares, (meu bisavô), filho de Bento José e Maria de la Concepción, nasceu às 10h30 do dia 4 de Dezembro de 1861 em Lagos, São Sebastião, (tinham os pais casado há um mês...) na casa onde viviam na Rua Augusta, sendo o seu pai sargento de infantaria. Foram padrinhos o proprietário José Simplício de Moura e a sua tia-avó materna Ana Cansino Antolinez, de Málaga.

Lopo José assentou praça como voluntário no regimento de infantaria n.º 15 em 20 de Dezembro de 1877, serviu 10 anos, dois meses e nove dias até 29 de Fevereiro de 1888 em que foi promovido a alferes por decreto desta data, sendo 1.º sargento graduado aspirante a oficial do regimento de infantaria n.º 15 onde tinha o n.º 9 de matrícula no livro 1.º da 1.ª série. Não fez campanhas, não teve ferimentos, teve como condecorações e louvores a Medalha Militar de Prata de Classe de Comportamento Exemplar, S. D. n.º 12 (2.ªsérie) de 1901. Cavaleiro da Real Ordem Militar de S. Bento de Avis por D. de 11 de Janeiro de 1902. Como habilitações literárias tinha o Curso da Arma de Infantaria. Teve 40 dias de tempo de licença e 256 dias por motivo de moléstias ou tratamentos hospitalares. Não existem notas no âmbito disciplinar.

Foi alferes para o regimento de infantaria n.º 22 por Decreto de 29 de Fevereiro de 1888. Passou ao regimento de caçadores da Rainha, Decreto Real n.º 12 de 12 de Maio; ao regimento de infantaria n.º 15 sob Decreto n.º 17 de 25 de Setembro de 1889. Professor do curso da classe de sargentos desde 5 de Janeiro de 1891 até 13 de Novembro de 1893. Foi tenente para o regimento de caçadores n.º 8 por decreto de 14 de Dezembro de 1894. Passou ao Regimento de infantaria n.º 15 sob decreto n.º 6 de 4 de Março de 1893. Passou ao estado-maior de infantaria sob decreto n.º 7 de 11; ao regimento de infantaria n.º 17 S. D. n.º 29 de 2 de Novembro de 1896; passou ao regimento de infantaria n.º15 S. D. n.º 32 de 7 de Dezembro; (Professor do 2.º ano da escola regimental desde 4 de Janeiro de 1898 a 25 de Junho de 1901). Capitão para o regimento de infantaria n.º 22 por D. de 19. Passou ao regimento de infantaria n.º 15 por ordem da secretaria de guerra de 24 de Outubro; ao regimento de infantaria n.º 4 S. D. n.º 2 de 11 de Janeiro de 1902. Faleceu de uma septicémia a 16 de Outubro de 1917 em Portimão e nesse cemitério está enterrado na campa n.º 798 ao lado da campa da mulher.

(Nota: os filhos de Luís Furtado Guerra estão numerados de 1 a 7.)

Casou a 29 de Outubro de 1898, em Portimão, com (1) Maria do Carmo Serpa Furtado, nascida às sete da manhã do dia 30 de Novembro de 1880 sendo b. a 11 de Março do ano seguinte. Era filha de outra Manria do Carmo Serpa e do escrivão de Direito, Luís Furtado Guerra e Maria do Carmo Serpa Guerra, administradora de seus bens, residentes na Rua da Porta da Serra em Portimão. Neta paterna de Francisco de Assis Furtado Guerra, de Portimão [filho de André Furtado de Oliveira e Maria Felícia Amália da Guerra] e de Ana Victória Cunha Furtado, natural de Lagoa. Neta materna de José Leonardo Serpa, de Portimão ou Alvor e de Maria Gertrudes Serpa, de Alvor. Maria do Carmo Serpa Furtado enfermou de tuberculose pela primeira vez cerca do ano de 1900. Depois dos últimos dois filhos nascerem chegou a ausentar-se para a Suíça para tomar ares. Infelizmente não conseguiu debelar a doença vindo a morrer numa casa em S. Brás de Alportel para onde tinha ido para tentar melhorar o seu estado de saúde junto do Sanatório dos Caminhas de Ferro, atual Sanatório Carlos Vasconcelos Porto, e único hospício do Algarve para doentes tuberculosos. A única pessoa que a visitava era seu filho Luís que tinha como certo também ele acabar por morrer com a mesma doença o que infelizmente também veio a acontecer. Está enterrada no cemitério de Portimão em campa rasa ao lado do marido.
Maria do Carmo Serpa Furtado Guerra com o filho Lopo Furtado Leote Tavares ao colo

Maria do Carmo Serpa (sogra de Lopo José) nasceu a 26 de Setembro de 1854 e faleceu à meia-noite de 18 de Março de 1896. Tinha tido uma quarta filha, "Criatura de Deus", que não chegou a ser nomeada pois sobreviveu 17 dias, nascida a 14 de Maio de 1889. Além da filha Maria do Carmo, sobreviveram-lhe outras duas.

Lopo José Aguado Leote Tavares e sua
mulher Maria do Carmo Serpa Furtado na Suiça. 
(2) Maria Cristina Serpa Furtado Guerra, a mais nova, n. c. de 1883 e f. 26 de Março de 1946 e sobreviveu a seu marido, Domingos Júdice Guerreiro, filho de João António Duarte Guerreiro e de Maria José Júdice, que tinha sido pedida em casamento por ele a 19 de Abril de 1908 e com ele casou a 4 de Novembro do mesmo ano em Portimão e de quem não houve descendência. Foi enterrada em Alvor mas a sua campa foi relocalizada no cemitério novo de Alvor [campa 216 do Cemitério de Portimão. Alvor: campa 313 talhão 3, ao fundo da rua à direita do cemitério antigo]. Foi madrinha de sua sobrinha-neta Mercedes Feu Leote Tavares, minha mãe, a quem deixou uns formosos jarrões chineses que ainda hoje existem. Foi casada relativamente pouco tempo. Aparentemente o marido era gastador e jogava bastante tendo havido necessidade de alienar quase a totalidade dos bens para pagar as dívidas de jogo. Uma das propriedades que escapou à voragem foi a propriedade da Torre em terrenos que hoje se encontram frente à Penina, à saída de Portimão na antiga estrada de Lagos. Essa propriedade estava hipotecada por 70 contos de réis, quando Cristina se divorciou do marido. O dinheiro recebido por Mercedes Feu Marchena casada com o sobrinho Lopo Furtado Leote Tavares, em dote pela venda da sua quota na "Feu Hermanos", foi o que permitiu resgatar a hipoteca da "Torre". Em virtude disso, Cristina instituiu o sobrinho e a mulher como herdeiros universais.
Maria Cristina vivia em Portimão, já divorciada, e vinha à Rocha para casa do sobrinho aos fins‑de‑semana. Não vinha mais porque o clima da Rocha era mau para a sua asma. Contactou várias vezes com seu meio-irmão Luís Furtado Guerra que vivia em Famalicão e vinha com alguma frequência ao Algarve. Aparentemente, por querer oferecer-lhe um fato, ofendeu Luís o que provocou o corte de relações. Aparentemente já tinha sido comentado o nome de Luís como futuro herdeiro, uma vez que Cristina não tinha descendência. Outro dos episódios contados por um dos netos passou-se aquando da abertura do cofre de Luís Furtado Guerra, sogro de Domingos Júdice Guerreiro. Era hábito de Luís tomar nota de todas as dívidas contraídas pelos seus três genros. Aparentemente quando estavam a visionar os papéis que havia deixado e chegando ao momento em que tiraram a lista das dívidas de Domingos, este avança pega no papel, guarda-o no bolso e diz aos restantes dois cunhados, João Veloso Leote e Lopo José Aguado Leote Tavares, que “esses eram papéis particulares entre ele e o sogro” livrando‑se assim de pagar a torna correspondente da dívida havida. Além deste problema com as dívidas de jogo também tinha um affair do conhecimento público com uma chapelista de casa aberta ao público em Portimão chamada Marie Therése.

(3) Ana Serpa Furtado Guerra que n. a 16 de Julho e b. a 30 de Novembro de 1882 em Portimão. Casou a 27 de Outubro de 1901 em Portimão com João Veloso Leote júnior n. a 28 de Março de 1869 também nessa cidade e filho único de João Veloso Leote sénior natural de Lagos, Santa Maria, proprietário, militar, e de Maria Tibúrcia Pargana das Neves, neto paterno de Francisco Silvestre Leote, militar de carreira, cavaleiro da Ordem de Cristo, e de sua segunda mulher Mariana de Almeida Mascarenhas Corte‑Real. [Francisco Silvestre Leote tinha casado em primeiras núpcias com a irmã da segunda mulher pelo que os filhos de ambas, oito ao todo, eram meios-irmãos além de primos irmãos]. Neto materno de António Luís Pargana, Juiz de Fora em Silves, Corregedor de Miranda e Bragança e cavaleiro da Ordem de Cristo, e de Francisca Xavier Josefa de Gusmão. António Luís Pargana é listado em 1776 como um dos 12 maiores prestamistas da freguesia de Portimão com 85 milhares de réis.

Ana Serpa Furtado Guerra e João Veloso Leote foram pais de Jaime Furtado Leote que casou duas vezes a primeira com Maria Cecília Costa e a segunda com Isabel de Melo Galvão de ambas com descendência; Maria Luísa Furtado Leote casada com o engenheiro militar Manuel José Estevam Guimarães, com descendência; e Joaquim Furtado Leote que casou duas vezes, a primeira com Fernande Elvire Anne Marie Deffense, cavaleira e campeã emérita de provas hípicas, pais de doze filhos, alguns vivendo no Brasil e a segunda com Maria da Conceição Jacinto, também com sucessão que vive nos Estados Unidos da América.

O pai de Maria do Carmo Serpa Furtado, Luís Furtado Guerra, depois de enviuvar da primeira mulher estabelece uma relação com Maria Luísa Castela, rica proprietária com quem nunca casou mas da qual teve quatro filhos varões todos com descendência. O mais velho, já referido acima tinha o mesmo nome do pai, (4) Luís Furtado Guerra, que nasce a 2 de Janeiro de 1899 (o mesmo ano em que nasce o neto, Lopo Furtado) tendo sido o mais aplicado dos quatro irmãos. Cursou Direito em Coimbra, foi conservador do registo civil e predial da Golegã, Valpaços, Chaves e Famalicão tendo casado com Maria Lúcia Miranda de Abreu, de Coimbra, mas vivendo no Porto; foram pais de Luís Manuel de Abreu Furtado Guerra n. em Valpaços em 1938, formado em filosofia, que eu conheci e em casa de quem eu estive em Miraflores, tendo casado tarde sendo pais de uma filha nascida em 1992, Diana Maria Caetano Furtado Guerra. O segundo, (5) Celestino Furtado Guerra, foi escriturário e professor num colégio em Silves, tendo casado com sua prima Albertina Xavier Oliveira Furtado, pais de um único filho varão Eurico Xavier Furtado Guerra, gerente bancário, casado com uma sobrinha da mãe, e sua prima, Maria Correia de Oliveira Furtado, proprietários da Farmácia Furtado de Portimão, sendo os dois pais de, pelo menos, Carlos Alberto Furtado Guerra, também casado com uma farmacêutica, pai de gémeos e mais uma rapariga. O terceiro filho (6) Armando Furtado Guerra, teve um filho em França com o mesmo nome, Armando, que por sua vez foi pai de, pelo menos, uma rapariga que vive próximo de Ayamonte. O quarto filho (7) Abel Furtado Guerra, sem grande notícia e sem descendência. Por morte de Luís Furtado Guerra, e passados alguns anos, Maria Luísa Castela veio viver para Lisboa, em virtude de se encontrar muito sozinha em Portimão. Habitava parte da casa de família que o marido lhe tinha deixado em usufruto e em posse ao filho mais novo Abel, que em virtude de ter sofrido uma meningite em pequeno tinha de ser salvaguardado no futuro. Depois da mudança para Lisboa, a casa foi vendida ao filho Celestino e que ainda em 2003 continuava na posse de seu único descendente Eurico. Os filhos desta união foram reconhecidos por testamento fechado aquando do falecimento do marido.

A mãe de Luís Furtado Guerra, Ana Victória da Cunha, nasceu cerca de 1811 em Lagôa e f. em Portimão em 1887. Era filha do major Luís José da Cunha Carneiro [também avô paterno do general António Pedro Soares Carneiro f. a 28 de Janeiro de 2014, filho de Joaquim José Cunha Carneiro], n. de Vila da Feira e de Ana Joaquina da Silveira Raposo, de Portimão. Neta paterna de Francisco José Carneiro n. no Porto, Sé, (filho de Francisco Carneiro, de Burgães, Santo Tirso e de Luísa de São José, da Guarda) e de Antónia Teresa de São José, n. Porto, Massarelos, (filha de José Ribeiro, também de Massarelos e de Maria Ribeiro). Neta materna de João António da Cunha, n. em Écija, Sevilla, Espanha, professor régio, e de Joana da Silva Raposo, (filha do capitão Francisco de Sousa Neves e de Ana Joaquina Raposo, de Lisboa).

O pai de Luís Furtado Guerra, Francisco de Assis Furtado Guerra, n. em Portimão em 1807, foi b. em perigo de vida mas acabou por suceder a seu pai no ofício de Tabelião do Judicial e Notas de Portimão, por carta régia passada por D. João VI de 22 de Fevereiro de 1826. Era filho de André Furtado de Oliveira e de Maria Felícia Amália da Guerra, de Portimão. Neto paterno do lavrador da Mexilhoeira Grande, Francisco José Barroso Botto e de Genoveva Jacinto de Oliveira Furtado, de Aljezur. Neto materno António Pedro Jara casado com Teresa Antónia da Guerra, ambos de Portimão. Os bisavós paternos foram Agostinho Botto, de Estombar casado com Catarina de Jesus Barroso, da Mexilhoeira e José Viana Justo casado com Maria Furtado de Oliveira, de Aljezur. Os Bisavós maternos foram João Pedro Jara, boticário de Portimão e organista, casado com Margarida Xavier e António José da Guerra casado com Joana Xavier da Fonseca, todos de Portimão.

Francisco de Assis Furtado Guerra teve como irmãs, entre outras, Ana Júlia Furtado da Guerra que casou com Domingos Leonardo Vieira de quem descendem muitos dos Bustorf Silva e Fabiana Lúcia Furtado que por seu casamento com José Alexandre Pargana Teixeira e Castro tiveram descendência em Maria Amélia Júdice Pargana que casou com o Dr. Joaquim dos Santos Nunes, proprietários de, por exemplo, o antigo Hotel da Rocha na Praia da Rocha.

A vida civil de Luís Furtado Guerra foi toda passada em Portimão, n. a 4 de Novembro de 1845 e b. 2 de Janeiro de 1846, sendo padrinhos o Conselheiro Governador Civil Marçal Henriques de Oliveira e Aboim e mulher, lá casou como se disse, e lá faleceu a 16 de Outubro de 1915. Formou-se em Direito e foi Conservador em Portimão pelo que os livros de assentos de casamento e batismo estão extensamente assinados por ele. Teve carta de notário e os documentos do seu notariado estão ao cuidado do Arquivo Distrital de Faro (Fundo do Cartório Notarial de Portimão, [Escrituras e Testamentos (1878-1904), Escrituras (1882-1904), Testamentos Públicos e Doações Para Depois da Morte (1900-1905), Reconhecimento de Certidões de Missas (1884-1900), Aberturas de Sinais (1892-1910), Actos Praticados Fora de Notas (1894-1910), Reconhecimento de Letras e Assinaturas (1900-1901) e Protestos de Letras (1880-1883)].

Era único filho varão do primeiro matrimónio de Francisco de Assis Furtado Guerra, Tabelião do Judicial e Notas de Portimão mas do segundo casamento de Ana Victória da Cunha, natural de Lagôa. Do primeiro casamento de Ana Victória da Cunha com o capitão Joaquim Manuel da Silva, provavelmente assassinado pelos miguelistas, foi única filha Emília da Silveira Júdice que casou em 1951 em Lagôa com Elisário Augusto Lindsay filho do escocês Marcus Lindsay nascido em Montrose, perto de Dundee, inglês reconciliado com a igreja católica, e sua mulher Gertrudes Tibéria da Purificação. O capitão Joaquim Manuel da Silva era neto paterno de Joaquim Manuel da Silva Dias e de sua mulher Angela Maria Quaglia Júdice. Esta mesma Ana Victória da Cunha era filha de Luís da Cunha Carneiro e de Ana Joaquina da Silveira Raposo. Ana Victória da Cunha teve mais 13 irmãos e irmãs!

Luís Furtado Guerra teve mais quatro irmãs que ficaram todas solteiras vivendo em casa de seus pais, e proprietárias, referidas por ordem de nascimento: Ana do Carmo Furtado Guerra, falecida com 87 anos e sepultada na campa 798, Maria Constança Furtado falecida com 83 anos, Maria Manuela Furtado, falecida com 73 anos e Maria Fabiana da Cunha Furtado falecida em 1916 e sepultada na campa 791, tudo no cemitério de Portimão. Estas senhoras foram instrumentais na educação de suas três sobrinhas, M.ª do Carmo, Ana e M.ª Cristina Furtado Guerra, assim como no apoio prestado a seu irmão, e depois, a sua sobrinha neta Henriqueta Furtado Leote Tavares, aquando da parte final da sua vida, sendo duas delas madrinhas no seu casamento e apoiando-a na doença que a vitimou. Numa nota curiosa publicada pelo jornal O Algarve de 20 de Fevereiro de 1910 onde se lê: Realizou-se no primeiro domingo a procissão das Cinzas... a procissão continha 13 andores que foram ornamentados pelas seguintes damas e cavalheiros, desta vila: 1.º andor São Salvador; pela sr.ª D. Fabiana Furtado Guerra, ... O cortejo abria com o guião a cujas borlas pegavam os srs. Bivar Weinholtz, Luiz Furtado Guerra, Francisco Maurício e António Velho da Costa.



Lopo José Aguado Leote Tavares e sua mulher Maria do Carmo Serpa Furtado (Guerra) foram pais de três filhos:

D.1. Lopo Furtado Leote Tavares, (meu avô) que segue §5.
D.2. Maria Henriqueta Furtado Leote Tavares
Nascida fatidicamente a 14 de Janeiro ou Fevereiro de 1901 em Lagos e b. em Portimão. Curiosamente não encontro tal assento de b. por mais que procurasse em Portimão e Lagos entre as datas dos dois irmãos. Como o livro de assentos apresenta irregularidades e transcrições de outros livros é provável que esteja fora de sequência. Maria Henriqueta foi educada em Lagos, onde viveu na casa de seus pais na companhia, primeiro de seus irmãos e quando estes foram para o colégio militar, tinha como companhia e grande amiga a sua prima Emília Leote Júdice Cabral. Pelas razões de saúde dos pais já comentadas acima, e quando estes se ausentavam para fora de Lagos, e mesmo depois de seu pai morrer fica aos cuidados dos avós que ainda sobreviveram até 1924 e 1923 respetivamente. 

Foi protagonista de um escândalo familiar ao apaixonar-se pelo professor de pintura, João Maria de Jesus de Melo Falcão Trigoso, que vivia na mesma cidade mas que era casado com uma sua prima em 6.º grau, Maria da Piedade de Azevedo Corte-Real, filha do major Lázaro Moreira Corte‑Real e de Maria Paula Mascarenhas de Azevedo (prima do marido), sendo Lázaro descendente de Leotes que pelo pai quer pela mãe dele. A situação criada foi de tal sorte que Maria da Piedade pediu o divórcio e rumou a Lisboa onde viveu o resto da vida com os dois filhos havidos do casamento João n. em 1910 e José em 1911, ambos casados e com descendência. Maria Henriqueta deixou de ser recebida em Lagos e por muitos dos seus familiares diretos pelo que foi para Lisboa onde viveu maritalmente com Falcão Trigoso até falecer. As poucas pessoas que se relacionavam com ela eram a sua tia Ana Serpa Furtado Guerra, irmã de sua mãe, e as irmãs de seu avô Luís Furtado Guerra como acima dissemos. O seu pai, Lopo José, morreu em 1917, enquanto sua mãe definhava da tísica que a consumia em São Brás de Alportel. Maria Henriqueta só casou depois de sua mãe falecer em Abril de 1922, pois era necessário o seu consentimento para o casamento que veio a realizar-se na antiga conservatória do Campo Grande de Lisboa a 3 de Dezembro de 1923. Foram testemunhas de seu casamento suas tias avós irmãs do avô Luís, Maria Manuela e Maria Constança.
Ainda fez algumas tentativas de tratamento contra a tuberculose, como a que fez passando uma temporada no Caramulo com seu marido, mas sem o desejado desfecho. Acabou por falecer na mesma freguesia onde morava em Lisboa, Campo Grande a 18 de Dezembro de 1927, às 22 horas, vitimada pela tuberculose e com pouco mais de 26 anos. Maria Henriqueta quando abandonou Lagos tinha levado consigo as joias de sua mãe que ficaram em poder do marido que ainda lhe sobreviveu muitos anos, tendo falecido em Lisboa em Dezembro de 1956. Tinha feito mais do que uma tentativa de reconciliação com a primeira mulher que não chegaram a bom porto. Falcão Trigoso mandou construir um bonito jazigo raso com lugar só para dois caixões que está tapado por uma laje ligeiramente inclinada onde foi gravada um epitáfio, no cemitério dos Prazeres em Lisboa que ainda hoje pertence aos descendentes de Falcão Trigoso. Enquanto o jazigo não ficou pronto, o corpo de Maria Henriqueta esteve no jazigo n.º 4821 do mesmo cemitério. Lamentavelmente este episódio provocou a separação com o irmão mais velho, Lopo, com quem nunca mais reatou contacto. Pena!

D.3. Luís Furtado Leote Tavares, 

Filho mais novo de Lopo José Aguado Leote Tavares e Maria do Carmo Serpa Furtado, nasceu na freguesia da Sé de Faro a 20 de Agosto, mas foi b. em Portimão a 9 de Outubro de 1902. Foram seus padrinhos seu avô paterno, coronel de infantaria no quadro de reservas, Bento José Leote Tavares e sua tia-avó materna, Maria Fabiana da Cunha Furtado, solteira e proprietária. Foi militar tendo feito o colégio militar como seu irmão Lopo de quem falaremos de seguida. Era um jovem muito bem disposto, excelente dançarino segundo atestam várias senhoras da socio-elite da Praia da Rocha que eram deliciadas pela sua resistência e habilidade em todos os tipos de dança, como várias vezes o testemunhou a avó paterna do signatário, Maria Francisca Sanches Inglês [e prima em 8.º grau de Lopo, ligação essa que desconheciam!], com quem dançou diversas vezes no Casino da Praia da Rocha, e que acrescentou ser ele educadíssimo além de ter uma excelente postura e harmonia de feições. Aparentemente pouco cuidado tinha com a saúde derivado a um fatalismo persistente que o levava a vaticinar abandonar cedo este mundo, o que infelizmente se verificou. Adoeceu e acabou por falecer em Santarém onde estava colocado a servir no posto de tenente no Regimento de Cavalaria 4, à meia noite e trinta minutos do dia 31 de Março de 1931, com pouco mais de 28 anos de idade. Foi a sepultar no cemitério dos capuchos de Santarém pelas 18h00. Segundo relatos da época o cadáver, coberto com a bandeira nacional, foi conduzido, num armão puxado a três parelhas, do grupo de artelharia a cavalo, n.º 2 abrindo o préstito contingentes da guarnição militar e na qual se incorporaram todos os oficiais da guarnição, centenas de pessoas, deputações da polícia e da G. N. R. e oficiais de várias unidades militares de diversos pontos do país. O sr. alferes Santos conduzia a espada e o barrete do extinto. Sobre o feretro foram depostos muitos ramos de flores naturais e quatro coroas. Organizaram-se 16 turnos, que pegaram nas borlas da urna, sendo o penúltiplo constituido pela direcção do clube de Santarém e o último por pessoas de família e pelo sr. Rui de Figueiredo. Junto da sepultura discursou o sr. coronel Cardoso dos Santos, comandante do regimento a que o extinto pertencia. Dirigiram o funeral o srs. tenente-coronel Vitor Peixoto e o capitão Garcês Caldas. A notícia de sua morte foi noticiada em vários jornais da época como o que reproduzimos de seguida: Lopo Furtado Leote Tavares, António Carlos Leote Tavares, sua mulher e filho, Maria Marta Leote Tavares, Cristina Furtado Júdice Guerreiro, Emília Leote Tavares Amado da Cunha e seu marido cumprem o doloroso dever de participar o falecimento do seu chorado irmão, sobrinho e primo, Luiz Furtado Leote Tavares, e que o seu funeral se realiza hoje, às 18 horas, da séde do regimento de cavalaria n.º4 para o cemitério dos capuchos. Segundo o que averiguei Luís Furtado Leote Tavares jaz enterrado com caixão no coval 360 com as coordenadas n.º 25 da Rua "i".  Esta campa foi comprada em 22 de Maio do mesmo ano, por Rui de Sousa Figueiredo para alojar o corpo de seu amigo Luís FLT. Está registada a compra no livro 124 a fls. 19. Este coval situa-se junto à igreja, na parte velha do cemitério, junto a outros covões perpétuos da família Figueiredo onde estão enterrados Jaime Figueiredo e o Dr. Eduardo Figueiredo.


§5

Lopo Furtado Leote Tavares


Meu avô e filho mais velho e único descendente de Lopo José Aguado Leote Tavares e de Maria do Carmo Serpa Furtado, nasceu na casa de seus pais na Rua Direita, às 10 da manhã do dia 6 de Junho de 1899 e foi b. a 29 de Outubro do mesmo ano. Foram padrinhos os dois avós, Bento José Leote Tavares e o escrivão de Direito Luís Furtado Guerra. Até aos dez anos viveu em Lagos tendo partido de seguida para Lisboa onde foi incorporado como Menino da Luz com o n.º 116, a 29 de Setembro de 1910. No ano seguinte repetiu a 2.ª classe, (moderno 6.º nível de ensino) passando à 3.ª com classificação de Suficiente, da 3.ª para a 4.ª com Bom. Repetiu a 4.ª e passou para a 5.ª com Suficiente. Passou ao 6.º e 7.º com Bom e concluiu o curso com Muito Bom e com as seguintes aptidões physicas: Infantaria 13 valores, Cavallaria 15, Esgrima 15, Gymnastica 18, Equitação 16 e Tiro 10 Valores. Foi graduado em 3.º comandante de secção em 8 de Outubro de 1917.
Nas observações no livro de registo da escola consta: Em virtude da nota do Conselho Tutelar do Exercito de Terra e Mar, n.º 378 de 25 de Outubro de 1915, passou a pensionista em 1 do corrente. Abatido ao efectivo do batalhão colegial em 20 de Outubro de 1918 por ter concluhido o curso. Quando saiu do Colégio Militar, alistou-se como voluntário sendo incorporado no Regimento de Cavalaria N.º 2 com o número 1090 da 2.ª Companhia. Tinha 1 metro e 680 milímetros de altura, tinha sido vacinado e ficou com o posto de 1.º Sargento Cadete. Passou ao Regimento de Cavalaria N.º 11 em 11 de Abril de 1919 com o número 1078, depois de ter sido suspenso e demitido do serviço do exército por se envolver na revolta de Monsanto em Janeiro-Fevereiro de 1919. Fizeram frente aos liberais, perderam e foram apanhados quando fugiam dentro de uma carroça muar, cobertos de feno. Foram levados para o norte de Portugal (Porto?) e aí embarcados para a Madeira onde estiveram exilados durante dois anos. Entre outros companheiros de infortúnio estava o grande amigo Fernando Marques Moreira, dos Açores. Com este desfecho ficou encerrada uma carreira militar promissória e muito desejada que era tradição na família. Foram-lhe contados 357 de serviço até 21 de Novembro de 1919.

Para terminar a informação militar deixo um relato do que se passou. Na tarde do dia de S. Vicente ─ 22 de Janeiro de 1919 ─ saem do quartel tropas de Lanceiros 2 e das baterias de Queluz, ao som da marcha de guerra tocada por clarins. Vão chefiá-las respectivamente, o Tenente-Coronel Silveira Ramos e o Tenente-Coronel Almeida Teixeira. São seguidos por numerosos civis, comandados pelo ex-Capitão Júlio da Costa Pinto, herói das campanhas de África. Á passagem das hostes, sob a chuva miudinha que caía naquele fim de tarde, as vidraças enchiam-se de gente que acenava com os seus lenços. Foram concentrar-se em Monsanto, onde o Conselheiro Aires de Ornelas assume a chefia do movimento, nomeando como seu ajudante o Dr. Pequito Rebelo. Já algumas escaramuças tinham ocorrido, quando no dia seguinte, às 11 horas do dia 22 de Janeiro, finalmente se proclama a Monarquia, hasteando-se a verdadeira Bandeira de Portugal. O governo republicano, como não podia dispor de muitas tropas, pois as que tinham ficado nos quartéis recusavam-se a ir combater as hostes Realistas, teve que recorrer especialmente ao ataque com artilharia terrestre e naval. Durante todo o dia foi intenso o duelo entre as peças governamentais e as dos Realistas de Monsanto, de tal modo que chegou a haver estragos em várias partes da cidade. Em todas as frentes foi rija a batalha, em mortos e feridos de ambos os lados. Os ataques e contra-ataques seguiam-se constantemente. Ao cair da noite, a vitória parecia estar no campo monárquico, com o fracasso das sucessivas tentativas republicanas de dominar a sublevação. Faziam-se planos para romper o cerco logo pela madrugada. No entanto, no outro dia a refrega foi-se penosamente arrastando. Passadas 48 horas de contínua contenda, a Artilharia Realista começava a ter grave falta de granadas. Entre as restantes tropas o mesmo: falta de balas. Cercados, sem hipótese de retirada, os bravos de Monsanto lutaram até se lhes esgotarem por completo as munições. Quando tudo cessou, no campo jaziam 39 cadáveres, sendo que o número de feridos ascendia a mais de 330 homens. Falho de munições, o Movimento Restauracionista sucumbiria - já não havia projécteis para os canhões, nem sequer cartuchos para as espingardas. Vencida a tentativa de resgate da Pátria, aos vencidos só restou suportar em condições humilhantes a prisão, o exílio e o confisco dos seus bens.

Lopo Furtado Leote Tavares, casou a 30 de Maio de 1932, em Ayamonte com Maria de las Mercedes Feu Leote Tavares, filha de António Feu Marchena e Cristobalina Marchena Conde, todos ayamontinos. O casamento tinha ficado adiado por um ano em virtude da morte de Luís Furtado Leote Tavares. . 

Foram pais de Lopo nascido em 1933 e de Maria das Mercedes (minha mãe) nascida em 1934.

O resto da história decorre até aos nossos dias.
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Nota: Em virtude da introdução de referências no Blog ser extremamente complicada agrupam-se aqui as fontes em formato de bibliografia/fontes.
Arquivos Paroquiais Portugueses, Brasileiros e Espanhóis; Arquivo Histórico Ultramarino,  Biblioteca Nacional (Lisboa); Arquivo Histórico Militar (Lisboa); fundos notariais de Portimão no Arquivo Distrital de Faro; Cemitério de Portimão; Fundação Henrique Leote (Serra D'Ossa); Associação dos Farmaceuticos Portugueses; Despachos reais portugueses no Rio de Janeiro; Arquivo Particular de João Luís Esquível incluindo todas as fotografias de família.


Descendência de Manuel José de Sousa Leote §3

Descendência de 
Manuel José de Sousa Leote 
e de sua mulher D. Benilde Sinclética Dourada da Silva

§3

Bento José Leote Tavares, (meu trisavô), primogénito de Maria Bárbara das Neves Leote e de Lopo Rebelo Tavares, n. a 13 de Março e b. a 1 de Abril de 1840 em Lagos, Santa Maria.


Bento, primeiro do nome e do primeiro matrimónio, filho de Lopo Rebello Tavares, natural de Lagos e de D. Maria Bárbara das Neves Leotte Tavares, natural de S. Cristóvão de Lisboa, neto paterno de João António de Tavares, natural da Sr.. da Luz e de D. Maria Paula Rebello de Lagos, e materna de Manuel José de Souza Leotte, Brigadeiro reformado e de D. Benilde Sinclética Dourada da Silva Leotte, aquele natural de Lagos e esta da freguesia de S. José do Rio de Janeiro; nasceu aos treze dias do mês de Março de 1840 anos, foi batizado com licença minha pelo reverendo padre José Manoel Esteves no primeiro dia de Abril do mesmo ano, foi padrinho o Major reformado Bento José Tavares, viúvo, natural e morador desta freguesia de Stª. Maria, Matriz da cidade de Lagos de que fiz este termo e assinei. Este Bento José Tavares era tio-avô da criança, irmão de João António Tavares Rebelo. Nesta data Bento José Tavares já era viúvo há 20 anos tendo a mulher e a filha falecido no espaço de quatro meses em 1819.
Foi seu padrinho o major reformado Bento José Tavares, viúvo de 53 anos de idade, irmão do seu avô João António de Tavares Rebelo. Bento Leote Tavares fez carreira militar e, ao princípio, quando assentou praça com 15 anos, sabia ler, escrever e contar assim como princípios de Latim. Serviu nos regimentos de Infantaria 6 e 15, Caçadores 4 e 12, comandou os Distritos de Recrutamento e Reserva 36 (Funchal) e 32 (Lagos). Foi oficial do Estado-maior. Recebeu a Medalha Militar de Cobre da Classe de Comportamento Exemplar S. D. n.º 10 de 1867; Oficial da Real Ordem Militar de S. Bento de Avis por D. de 1 de Janeiro de 1895. Foi louvado pela maneira como desempenhou as funções de comandante interino do regimento, mantendo a disciplina do mesmo, aliando sempre a prudência, justiça e bom critério. Era o sócio n.º 2571 do Monte Pio oficial. Um jornal de Portimão noticiou as suas andanças como se pode ler em 1914: Encontra-se em Lisboa regressando em breve, o Sr. Coronel Bento Leote Tavares, d'esta vila.

Como sucessor mais velho de quase toda a família assumiu legados, heranças e obrigações como a que ficou legada em testamento de Francisco Júdice Tavares Biker, [sem descendência direta sendo que era filho de Maria Bárbara Tavares irmã de João António Tavares Rebelo, pai de Lopo Rebelo Tavares, acima.] e que consistia numa mensalidade de 15$000 a ser paga ao afilhado, Joaquim Pedro Vieira Júdice Biker, oficial da marinha e governador da Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Moçambique, não constando que tenha casado; e a sua irmã Maria Firmina Júdice Biker até que cumprissem 25 anos de idade sendo que estes pagamentos foram feitos pelos rendimentos que o testamenteiro de Francisco Júdice Tavares Biker deixou: a metade da mensalidade ao nosso Bento José Leote Tavares e a outra metade a seus filhos Bento José, António Carlos e Maria Marta Aguado Leote Tavares.

Joaquim Pedro Vieira Júdice e sua irmã Maria Firmina eram ambos netos de Domingos Leonardo Vieira. Maria Firmina Júdice Biker casou em 1884 com António Maria Bustorf Silva, primo dos Leotes Tavares, Bacharel em Direito. Foram pais de Joaquim Júdice Bustorf Silva casado com Berta de Sampaio Vieira, Mário Júdice Bustorf Silva casado com Laura de Macedo e Mendonça, António Júdice Bustorf Silva casado com Maria Alice Carneiro, Maria Augusta Júdice Bustorf Silva casada com Alberto Mimoso Guerra, Pedro Júdice Bustorf Silva sem sucessão e Maria Luís Júdice Bustorf Silva casada com Manuel Baptista Júdice de Abreu.

Bento José Leote Tavares casou solteiro sendo 2.º Sargento do 15.º Regimento de Infantaria de Lagos a 7 de Novembro de 1861.
Aos sete dias do mês de Novembro do ano de mil oitocentos e sessenta e um às oito horas da manhã nesta igreja matriz paróquia de Santa Maria da cidade de Lagos, Concelho e distrito eclesiástico da mesma diocese do Algarve, perante mim o presbítero José Epifânio de Azevedo, prior da mesma freguesia, compareceram os nubentes, Bento José Leotte Tavares e Maria da Conceição Aguado Cansino, aos quais conheço e dou fé serem os próprios, tendo-me sido apresentado o mandato da Câmara Eclesiástica do recebimento dos mesmos com data de cinco do referido mês e ano registado a folhas cincuenta e uma verso, sendo o nubento de idade de vinte e um anos, solteiro, baptisado nesta freguesia de Santa Maria, segundo sargento do regimento de infantaria décimo quinto, filho legítimo de Lopo Rebello Tavares, escrivão da administração deste concelho, natural de Lagos e Dona Maria Bárbara das Neves Tavares Leotte de São Cristóvão de Lisboa, moradores na Rua Augusta da freguesia de São Sebastião desta cidade, neto paterno de João António Tavares e Dona Maria Paula Rebello e materno de Manuel José de Sousa Leotte e Dona Benildes Sintelética (!) Dourada da Silva Leote; e ella nubente de idade de vinte e cinco anos, solteira, baptisada na freguesia de Santiago da cidade de Málaga, Reyno de Espanha, hoje moradora na mencionada rua Augusta desta cidade, filha legítima de João Aguado Henriquez e Dona Joaquina Cansino, moradores que foram na Calle del Cobertijo del Conde na dita cidade de Malaga e hoje residente em Madrid na Calle del Barco número 19, empregado no Archivo Geral, no Governo Político, neta paterna de D. João e Dona Josefa Henriquez e materna de D. António e Dona Maria Antolinez, aos quais interroguei solenemente e havido o seu mútuo consentimento por palavras de presente se receberam por marido e mulher e os uni em matrimónio e seguidamente lhes lancei a benção especial procedendo em todo este acto conforme o rito da Santa Madre Igreja Cathólica Apotólica Romana sendo testemunhas presentes que conheço serem os próprios José Custódio Pereira, casado, propietário e Manuel Rodrigues Formosinho, casado negociante, ambos moradores na já referida Rua Augusta da Freguesia de São Sebastião. E para constar lavrei este assento em duplicado que depois de ser lido e conferido perante os conjuges e testemunhas com migo asignaram. Tem cinco assinaturas. A da nubente acaba em Henriquez (?)! Arquivo Distrital de Faro, Livro de Casamentos do ano de 1861 da Freguesia de Santa Maria, Concelho de Lagos, incorporado na seccção paroquial deste arquivo. Assento n.º 15 do dia 7 de Novembro de 1861. Ela casou indo grávida do primeiro filho.
....na mesma cidade, com Maria de la Concepción Aguado Cansino, malaguenha e espanhola de nação, n. 26 de Novembro e b. a 6 de Dezembro de 1835 na paróquia de Santiago em Málaga

En Málaga, en seis de Diciembre de mil ochocientos treinta y cinco, yo D. José Antolinez Alarcón, Presbítero con licencia del Señor Cura de la Parroquial de Sor. Santiago, Bautizé a Maria de la Concepción, Rafaela, Joaquina, Josefa, Saturnina, hija legitima de D. Juan Aguado y Enrique y de D.ª Joaquina Cansino, naturales de esta, declaró dicho su padre, no haber tenido otra hija de este nombre, y aseguró que nació el dia veinte y nueve del mes proximo pasado: Abuelos Paternos, D. Juan, y D.ª Josefa Enrique, naturales de esta; Maternos, D. António, y D.ª Maria Antolines, naturales, el de Alhaurin el Grande, y ella de esta. Padrinos, D. Rafael Antolinez, y D.ª Joaquina Aguado: Advertiles su obligación, y Espiritual Parentesco: testigos, D. António Sanchez y D. Antonio Bernal, de esta vecindad: Doy fee (a) D. José Fariñas Bautista, José Antolinez y Alarcon. Obispado de Málaga, Archivo Histórico Diocesano, Legajo 601, n.º 1, libro 56 de Bautismos, folio 107 vta y 108, Parroquia de Santiago en Malaga, Espanha.
Maria de la Concepción Aguado Cansino foi filha de Juan Aguado y Enrique, empregado no Archivo General no Governo Político espanhol, e de Joaquina Casino Antolinez, ambos de Málaga. Joaquina Cansino tinha três irmãos Juan (ver mais informação aqui), Ana y Conchita Cansino Antolinez. Juan Aguado e Joaquina Cansino Antotinez foram moradores na Calle del Cobertijo del Conde, em Málaga e, em Novembro de 1861, moravam na Calle del Barco n.º 19 em Madrid. Neta paterna de Juan Aguado e Josepha Enrique, ambos de Málaga, e neta materna de António Cansino, de Alhaurín el Grande, e de Maria de las Mercedes Antolínez, de Málaga.

O padrinho e testemunha do casamento de Bento e Concha, Manuel Rodrigues Formosinho, natural de Castillejos, onde o seu apelido se escrevia Fermosiño, já tinha sido casado em primeiras núpcias (1846) com Beatriz Domingues (f. 1855) de quem teve dois filhos Sebastião e Diogo Rodrigues Formosinho que se formaram em Coimbra e que mantiveram boas relações com a segunda mulher de seu pai e seus meios-irmãos. Viveram em Portugal mas não sei se com descendência. Casou com uma irmã da avó Concha, Joaquina Aguado Cansino, e foram pais de 8 filhos com o apelido Rodrigues Aguado Formosinho, Beatriz que viveu em Évora com a mãe, solteira e professora; Manuel dono da famosa “Farmácia Formosinho” no Rossio, em Lisboa.

A Farmácia Formosinho, situada em Lisboa, na Praça dos Restauradores, já existia em 1908, data em que possuía depósito de produtos químicos e farmacêuticos e especialidades nacionais e estrangeiras. Em 1911, era propriedade do farmacêutico Manuel Rodrigues A. Formosinho, que se dedicava ao fabrico de algumas especialidades. Em 1915, os "Laboratórios da Farmácia Formosinho", fabricantes das especialidades "Urol" e "Tonogéne", já pertenciam à sociedade Ferreira & Franco [3], mas a partir do ano seguinte passa a surgir apenas (e até 1946...) como propriedade do farmacêutico Adriano Gueifão Ferreira. Este mesmo farmacêutico requereu o registo das marcas como o "Dynamogenol" (1916), "Nucleocalcina" (1917), "Convulsina" e "Laxatol" (1919). A Farmácia ainda se mantém na posse deste farmacêutico quando obtém alvará de laboratório de especialidades farmacêuticas para o Laboratório Formosinho em 1953. Manuel Rodrigues Aguado Formosinho faleceu em Lisboa a 27 de Fevereiro de 1948.

Manuel Rodrigues Aguado Formosinho foi casado mas sem descendência e viveu em Lisboa. Os outros irmãos de Manuel foram Bento, João, Gregório, Francisco, Maria das Mercedes e Joaquina que foram viver no Brasil, onde se estabeleceram com negócios entre os quais uma chapelaria de renome no Rio de Janeiro e todos com descendência. Não confundir com outros Formosinhos que viveram em Lagos nestas mesmas datas mas que não eram “primos” destes Leotes. Só os Rodrigues Aguados Formosinhos (com “s” na Baía e com “z” no Rio de Janeiro) são primos dos Leotes.
Outra graça: Era voz corrente na família que esta senhora, a avó Concha, provinha da mesma família que a famosa atriz e bailarina de flamengo espanhola, Margarida Carmen Cansino que se nacionalizou cidadã dos Estados Unidos da América com o nome de Rita Hayworth. Não foi investigado esta informação que, pela graça que tem mas inconsequência, deve permanecer como boato familiar.


Bento José e Concha, como eram conhecidos familiarmente, foram pais de dois filhos e uma filha, todos com vasta descendência, que foram:



C.1. Lopo José Aguado Leote Tavares (meu bisavô), que segue em §4.

C.2. António Carlos Aguado Leote Tavares, n. a 21 de Outubro de 1863 em São Sebastião de Lagos, tendo o óbito sido registado em Silves a 29 de Dezembro de 1932 apesar de ter tido uma síncope no comboio em Tunes na véspera. Faleceu num quarto particular do Hospital Civil de Silves às 8h15 da manhã. Tinha ido passar o Natal na casa da Cerca em Lagos com a irmã e voltava a Lisboa para passar o fim do ano com a mulher e o filho. O corpo veio para Lisboa para a igreja de Arroios e foi enterrado no cemitério do Alto de São João, em Lisboa. Posteriormente foi transferido para o jazigo da família em Cascais. Era coronel engenheiro com uma carreira militar distintíssima, tendo sido oficial às ordens de Sua Alteza Real o Rei D. Carlos. Foi um dos oficiais encarregados de compor o corpo do rei depois do atentado que o vitimou a tiro de carabina. Até há pouco tempo, no cofre existente na casa do Estoril pertencente à Viscondessa da Quinta de São Tomé, conservava-se a camisa ainda ensanguentada que o rei envergara no fatídico dia.

Casou apaixonadamente como a sua prima Henriqueta Maria Carolina Torres Leote, filha única do juiz Henrique Xavier Correia da Silva Leote, e neta única paterna de Francisco Xavier Correia da Silva Leote, e bisneta de Miguel José de Sousa Leote, dos Leotes de Albufeira.

A este Miguel se referiam quando se fala da violência havida durante o período da guerra civil, em Albufeira: as suas casas foram totalmente roubadas e depois incendiadas e a viúva do dito não ficou na posse de coisa alguma, a não ser de cinco desgraçados filhos, órfãos todos, todos impúberes e cheios de miséria! O documento passou decerto da mão do recorrido por que o houve dos Guerrilhas, pois foram eles que tudo roubaram. Este Miguel, de todos os filhos que teve muitos morreram jovens e sem descendência. Os dois que a tiveram foram o Diogo Tavares de Melo Leote, com um primeiro casamento com geração extinta e de cujo segundo casamento originou o tronco de Diogo d’Aÿet du Perier Leote; e de outro irmão a quem puseram o nome quase igual a seu irmão mais velho, Francisco Correia da Silva Leote, por ter nascido no mesmo dia do irmão, e que é o tronco dos Samora Leote de Albufeira. Este teve duas filhas, a mais velha que casou com um outro primo Samora, pelo lado da mãe, com descendência e a mais nova que “apareceu” grávida e que foi ter a criança a Loulé e que foi registada como exposta com o nome de Pancrácio. Apesar de tudo, foi educado em casa da mãe e quando este tinha 11 anos pôs um processo de reconhecimento maternal e uma habilitação à herança de sua mãe, que ganhou. Casou com Maria Eduarda Vieira, também ela exposta e depois reconhecida por sua mãe, e foram pais de uma extensa prole que vive nos arredores de Albufeira com os apelidos Samora Leote, Leote Mendes, Leote Mendes Neto, Leote Mendes Pais, Pincho Leote, Peneque Leote, Leote Duarte, Bach Leote e Morais Leote entre outros.

O avô de Henriqueta, Francisco Xavier Correira da Silva Leote, foi administrador do Concelho de Albufeira, diretor das alfândegas de Elvas, da Figueira da Foz, de Viana do Castelo e de Lisboa, delegado do procurador régio de Vinhaço e de Aldeia Galega do Ribatejo (antigo nome do Montijo). Quando residia em Albufeira lançou-se ao mar enfurecido que nenhum dos marítimos presentes quis afrontar de forma alguma, e conseguindo pelo seu temerário exemplo salvação de dois indivíduos que doutra sorte teriam sido vítimas, foi condecorado por bravura com a medalhe de 2.ª classe. O seu único filho e pai de Henriqueta, Henrique Xavier, formou-se em direito em Coimbra e foi administrador de Loulé, e juiz em Montemor-o-Novo e Tavira. Faleceu com 98 anos em Lisboa. Foi ele que conseguiu que fossem trazidas para Lisboa, de Lagos, a arca que continha (quase) todos os documentos da história da família Leote que hoje estão sob custódia da Fundação Henrique Leote na Serra d’Ossa. Casou com uma das três filhas herdeiras de João Joaquim Torres, Carolina Amélia Fernandes Torres, proprietário de Benavente, que enriqueceu emprestando dinheiro a seus conterrâneos, cobrando juros e arrematando courelas, hortas, casas, quintas e outras propriedades que deixou a suas filhas, entre elas a Herdade da Serra d’Ossa que tem o Convento, sede da Fundação acima referida, e que é completamente rodeada por outras tantas quintas e propriedades que a passou para o bisneto Henrique Coutinho Leote Tavares.

Pelo lado da avó materna tinha primos: os descendentes do filho dos viscondes da Charruada e neto do Conde de Farrobo, Luís Henrique de Sampaio Quintela, que encantava as soirés tocando piano e gastando a fortuna da mulher; e a descendente única do 2.º visconde da Quinta de São Tomé, Maria Isabel de Almeida Pinheiro Vasconcelos Coutinho Cabral, que acabou por casar com o seu primo Henrique Torres Leote Tavares único filho de Henriqueta e pai de Henrique Coutinho
(este último sem descendência que lhe sobreviva). Este Henrique tem um irmão 10 anos mais novo, Francisco Coutinho Leote Tavares que depois de casado com Maria Leonor Sousa Rodo foram pais de Francisco Rodo Leote Tavares, futuro 4.º visconde da Quinta de São Tomé e Manuel Rodo Leote Tavares, ambos casados e com filhos.

C.3. Maria Marta Aguado Leote Tavares (n-avó dos Sousa Martins e dos Guimarães). A mais nova dos irmãos, nasceu a 19 de Agosto e b. a 23 de Setembro de 1866 em Lagos, São Sebastião tendo falecido na freguesia de Santa Maria, também de Lagos, a 14 de Janeiro de 1956, foi padrinho Francisco Júdice Tavares Júdice, já referido acima, proprietário e residente em Portimão. Adorada pelo irmão António Carlos que a apoiou e ajudou, inclusivamente financeiramente, teve um casamento infeliz com Pedro Augusto Júdice Cabral, [filho de José Augusto Pinto Cabral e de Emília Augusta Júdice. Teve dois irmãos Maria Angélica Júdice Cabral que casou com Francisco José de Sousa Cintra, sem descendência, e António Joaquim Júdice Cabral que casou com Ema Xavier de Brito e foram pais de José Júdice Cabral, único filho, que casou com Maria Paula Palma Madeira, com descendência].

Pedro Augusto Júdice Cabral era homem mais novo, por quem não estava apaixonada mas com quem casou por indicação de seu pai. Fê-lo contrariada pois era conhecida a sua fama perdulária. Casaram-se em 1893, em Santa Maria e ela era morava na Rua dos Quarteis, em Lagos. Foram testemunhas ambos os pais dos nubentes. Ela disse que casava mas que depois de casar era senhora de fazer o que quisesse. Pouco tempo depois de nascer a única filha, por uma razão que se desconhece, saiu de casa com a filha e voltou para a "Cerca", a casa paterna, onde ficou a viver com a filha até ao fim dos seus dias, não voltando a casar. O processo de divórcio foi conflituoso e ainda decorria em 1898. A sua única filha Emília Leote Tavares Júdice Cabral
nasce a 22 de Dezembro de 1894 e b. a 21 de Fevereiro do ano seguinte em Portimão. Casou em Lagos, a 20 de Fevereiro de 1922 com João de Barros Amado da Cunha, n. a 24 de Junho e b. a 20 de Agosto de 1894 em Lagos, Santa Maria. Foram pais de duas filhas a quem foram postos diferente sequência de apelidos, a mais velha Maria Emília Leote Tavares Júdice Amado da Cunha, n. e casada em Lagos e falecida em Lisboa, Santo Condestável. Foi casada com Raúl de Castro de Sousa Martins, pais das gémeas Marta† e Concha, Luís, José e Maria Filomena, (Nicas) com descendência. A filha mais nova de Emília Leote Tavares Júdice Cabral, Maria da Conceição Tavares Cabral Amado da Cunha, nasce, casa e é sepultada em Lagos. Casou com Eduardo Barbosa Guimarães, pais de João Eduardo, Isabel† e António Carlos, todos com descendência, e a quem coube a “Cerca” de Lagos.

Segue no §4 e §5 da descendência de Manuel José de Sousa Leote
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