terça-feira, 25 de agosto de 2015

A Família Beckman e as suas Linhas Portuguesa (Algarvia) e Brasileira. (Atualizado con novas informações em 2022.)

A Família Beckman 

e as suas Linhas Portuguesa (algarvia) e Brasileira


Publicado no Brasil na Revista MARANHAY - revista eletrônica editada por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - prefixo editorial 917536 - antiga Revista do Léo - dedicada ao Lazer: Esportes e Literatura maranhenses - MARANHAY - Revista Lazerenta - 41-B - Published on Apr 5 2020, São Luís Maranhão. 

Nota: Não inclui as novas atualizações/informações feitas em 2022.


I

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Avant-propos
Iremos ver como da Alemanha a descendência chegou ao Brasil sendo que alguns dos seus membros foram figuras destacadas e controversas da política colonial quer contra, quer em representação da coroa assim como membros destacados da elite algarvia e lisboeta deixando descendência nos apelidos Beckman, Vilalobos, Correia da Silva e Leote. 

Introdução


Este texto tem como objectivo reunir informações sobre a descendência de um mercador, negociante e empreendedor alemão que viveu em Lisboa no final do Séc. XVI e XVII e que deu origem a dois ramos importantes da família em ambos lados do oceano Atlântico.

O primeiro membro desta família de que se tem notícia é Tomás Bequeman, (Thomas Beckman), que foi baptizado em Timunt, Alemanha [Schappelle, 1917]. Esta informação consta de um dos assentos de baptismo de um dos filhos que pode ver-se mais abaixo. No entanto, não consegui descobrir qual a equivalência a uma qualquer cidade alemã ou considerada alemã no fim do séc. XVI, princípio do Séc. XVII. Até poderia ser holandesa, belga ou mesmo hanseática, ou outro país europeu do norte pois o pároco que escreve o assento, lamentavelmente, não se dá ao trabalho de o clarificar. Será que queria dizer Dortmund? Já existia nessa época e era um dos maiores centros comerciais do Rhur. Especulações!
Tomás era negociante em Lisboa e vivia na freguesia da Madalena, freguesia da baixa na capital desse século, zona central de concentração do comércio citadino e de importação e exportação de tudo o que passava por Lisboa, à beira-rio.
A cidade sofreu uma convulsão tremenda a partir de 1 de Novembro de 1755 com o terramoto que a devastou. Muitos estragos foram feitos nos edifícios e, particularmente, nos arquivos paroquiais e outros. Lamentavelmente, da freguesia da Madalena, só estão disponíveis os assentos posteriores a 1755, ano desse desastre, o que dificulta a pesquisa de informações mais concretas.
Thomas Beckman casou com Leonarda das Neves, filha de [1] António Soeiro e Rosa Rodrigues[2]. António e Rosa ainda foram pais de Polónia de Barros casada com José Aleixo e de Frei José de Santo António. Deixo-vis aqui a nota.

Uma última nota que apareceu recentemente relativamente  a um outro membro da família Beckman, provavelmente um irmão deste Thomas de seu nome Richard Beckman, estabelicido também em Lisboa mas com negócios no Atlântico: Canárias, Cabo Verde, São Tomé e Principe, Mina, Madeira e Açores de onde levavam produtos a comerciar para o norte da Europa, Londres, Holanda, Baltico e até Moscovo.

A referência a ser inglés não está correta pois estava estabelecido em Lisboa e era de origem norte europeia assim como o irmão ou primo, Thomas. Por outro lado podia ser verdade que o Richard fosse o agente da família em Londres perfazendo um dos cantos do triângulo comercial usual nesse tempo.


Enquadramento histórico

Os sucessos que se vão relatar carecem de enquadramento histórico para um mais fácil entendimento das acções, suas justificações e respectivas consequências.
O fim do séc. XVI e princípio do séc. XVII vê o território nacional governado pela dinastia dos Habsburgos numa união dinástica (1580-1640) que nem sempre favorece os interesses portugueses.
Tinha sido convencionado que os territórios além-mar seriam governados por Portugueses e que não haveria interferência da casa soberana espanhola o que, na realidade, não veio a acontecer.
Países europeus como a França, com o objectivo de fazer guerra ao seu arqui-adversário Inglaterra, e a Holanda, em guerra independentista com os seus soberanos Habsburgos, acharam que ao atacar as províncias portuguesas fariam dispersar as forças defensivas, primeiro as portuguesas e depois as espanholas. Os objectivos eram diferentes: a França queria colonizar, a Holanda pilhar!
Vejamos o que se passou na região do Maranhão, centro da nossa história no Brasil.
Os ataques na costa brasileira começaram a ser feitos pelos Franceses nos anos 1555, 1594 e entre os anos 1612‑1615 e pelos Holandeses entre 1624 e 1654 não encontrando muita oposição e apostando, essas nações, em que não seriam enviadas tropas reais portuguesas para defender os nossos colonos e territórios. Assim aconteceu.
De França partiram, primeiro, Nicolas Durant de Villegagnon que aportou à baía de Guanabara a 10 de Novembro de 1555 com 600 almas a bordo. Só foram expulsos cinco anos depois,  em 1560.            
Seguidamente, Jacques Riffaut fundou uma feitoria (1594) no local onde depois (1612) seria instalada a primeira colónia francesa que adoptou o nome de São Luís em honra do rei francês Luís XIII e de seu antecessor Luís IX, São Luís. Nesse ano, Daniel de la Touche, Senhor de La Ravardière, chegou com cerca de 500 colonos mas a colónia só resistiu até 1615.
A 9 de Maio de 1624 uma armada holandesa com 3400 homens comandada por Jacob Willekens, e depois de bombardear fortemente a cidade, conseguiu a rendição do governador e a ocupação da cidade da Baía de todos os Santos. A dita ocupação durou até 27 de Março de 1625.
Nova invasão, desta feita em 1630 com 56 navios pelos mesmos Holandeses, conquista Recife. João Maurício de Nassau assume o comando dos interesses da Companhia das Índias Ocidentais na costa brasileira em Pernambuco (1637). De seguida, os Holandeses liderados por Pieter Baas, desembarcaram em Novembro de 1641 no Desterro e destroem a cidade de São Luís. Vinte e sete meses depois eram obrigados a sair do Maranhão. Destituído em 1644, Nassau volta aos Países Baixos e em 1654 os Holandeses abandonam o Recife. Apesar de terem sido derrotados em quase todas as batalhas que travaram com as tropas luso‑brasileiras, pelo Tratado de Haia (1661), Portugal obriga‑se a dar Ceilão e Sri Lanka aos Holandeses e a pagar uma indemnização de 4 milhões de cruzados (8 milhões de florins ou 63 toneladas de ouro!) em troca de reconhecer a soberania portuguesa sobre os territórios brasileiros e Angola, o que a coroa Portuguesa ficou a pagar durante os 10 anos seguintes.
                                                                                                                                                                            Lisboa, Terreiro do Paço (1662, Dirk Stoop)

Para resolver todas as questões pertinentes dos territórios colonizados a Coroa Portuguesa criou o Conselho Ultramarino em 1642 que veio substituir o Conselho das Índias e Conquistas Ultramarinas.
Todas estas incursões, invasões e situação de guerra latente e desgastante, se deveram à cobiça dos países intervenientes em conseguir para si um quinhão do grande negócio do açúcar – o ouro branco –, das "drogas" amazónicas, como cacau, baunilha, canela, cravo resinas aromáticas, etc e do mercado de escravos africanos. O açúcar e restantes produtos da terra eram exportados para Portugal que por sua vez os distribuía no resto da Europa com ganhos consideráveis.
Aos colonos eram dadas terras e isenções de modo a aliciar as migrações para as regiões ultramarinas. Muitos dos que partiram eram atraídos pela potencial melhoria da sua condição pessoal e social, para escapar à Lei, em consequência de ordens de desterro, ou simplesmente pelo espírito aventureiro. Eram acompanhados por membros do aparato militar, religioso e de Estado nas suas vertentes judiciária, policial, burocrática e da Fazenda que acautelavam os interesses últimos da coroa. A composição dessa sociedade variou no tempo e com o tamanho das comunidades que, se umas vezes primavam pelo equilíbrio das suas forças, outras vezes resultavam em situações despóticas e arbitrárias de alguém em quem se aliava a sede de poder com a maldade. Nem todas as comunidades tinham sempre o mesmo figurino nem cada comunidade deixava de ter variações destes modelos ao longo do tempo.
São Luís do Maranhão (1629, Albernaz)
Passada a primeira centúria que se caracterizou pelo estabelecimento de feitorias simples nas orlas costeiras, à medida que o tempo ia passando iam chegando mais colonos. Nas roças plantavam algodão, cana, tabaco, cacau e baunilha. Os incipientes centros urbanos iam desenvolvendo-se funcionando como centros distribuidores da produção açucareira dos engenhos, unidades unifamiliares e latifundiárias que com base no trabalho escravo conseguiam a produção em massa do dito Ouro Branco. 
As safras eram vendidas na maioria das vezes de antemão, sendo esse dinheiro usado na compra de escravos, sua alimentação, manutenção dos plantios, sobrevivência da família, investimentos nas infra-estruturas industriais e/ou novas propriedades o que a partir de certa altura passou a fazer parte do universo imediato e responsabilidades do senhor do engenho. A maioria dos fazendeiros teve que sofrer a escassez da mão-de-obra, a variação dos preços do açúcar, a valorização ou desvalorização da dívida pessoal à Coroa ou ao Estanco, a ocupação forçada pelas tropas invasoras, os ataques dos índios autóctones e as carências generalizadas de uma população entregue aos seus próprios artifícios num clima quente e difícil. Se conseguiram sobreviver deveu-se à sorte, à capacidade de gestão individual e à existência de uma política de casamentos e correspondente descendência que foi consistentemente capaz de levar os engenhos a bom porto, mas não necessariamente por esta ordem de importância.
A intervenção da Coroa Portuguesa, particularmente na zona do Maranhão, tinha como objectivo o controle do escoamento da produção e a sua valorização, disponibilizando em contrapartida os recursos que seriam necessários a uma comunidade variável em crescimento e com características próprias em cada território. Foi criado o que era conhecido como Estanco, a Companhia Geral do Comércio do Maranhão. Como a Coroa não conseguiu o retorno esperado arrendou-o a uma companhia privada de acções em Lisboa a quem foram dados privilégios por 20 anos, isenção de impostos e tribunal específico para tratar as ditas demandas. Entre outras obrigações devia fornecer aos maranhenses objectos de ferro e aço, produtos manufacturados do reino, especiarias do Oriente, por troca de géneros da terra vendidos na Europa, exclusividade do tráfego de escravos devendo importar um total de 10 000 cabeças, a 500 escravos por ano [Barroso, 1937, p.80][3].
Os bens que vinham da metrópole eram, por exemplo e segundo Frei Ivo D'Evreux: cabos de pau, tesouras, pentes, espelhos, contas de vidro, machados, foices, chapéus baratos, casacos, camisolas, apitos, brincos de orelha, anéis de cobre dourados, guizos, anzóis, etc. A funcionalidade desta companhia, governada a 6000 km de distância, foi precária sob o ponto de vista moderno mas foi um feito considerável para à época, tendo em conta a unidade e quantidade total dos territórios sob colonização portuguesa no Atlântico, Índico e Pacífico Oriental e o facto do governo português estar a recuperar a independência fazendo a guerra nas suas fronteiras imediatas e remotas (1640‑1668) o que provocou, em muitos casos, o descontentamento das populações, escassez de matéria-prima e de escravos e a demora no escoamento da produção agrícola.
Se à distância somarmos a pouca segurança das rotas marítimas e o assédio constante aos navios mercantes portugueses que cruzavam os mares e faziam a ligação entra a Europa a África e América do Sul temos todos os indicadores para que, em algum período, houvesse uma crise de continuidade com as correspondentes consequências.
Os fazendeiros não estavam entregues a si próprios como referimos acima mas havia ainda um outro terceiro poder na sociedade que se entrepunha entre essa independência e a autoridade real. Um grupo de religiosos, os Jesuítas[4], queria impor os seus valores e vontades de acordo com uns princípios que chegaram a ter a oposição da Igreja Católica. As “reduções”, ou missões jesuítas, eram unidades autónomas, autóctones e auto suficientes de índios com governo próprio cujo objectivo era a conversão e ensinamento da Palavra de Deus mas em moldes europeus com objectivos algo utópicos. A mão-de-obra semi escravizada era a força de trabalho das plantações e engenhos dos jesuítas que faziam concorrência à produção dos senhores de engenho. Apesar dos fazendeiros preferirem os escravos africanos os conflitos com a Ordem surgiam por haver escassez deles e terem, os fazendeiros, que recorrer aos escravos indígenas cujo monopólio era controlado pelos Jesuítas.
                           Canibalismo, índios Tupinambá (Séc. XVI, Theodor de Bry)
Distribuídos pelos 827 km2 da ilha de São Luís havia mais de vinte e cinco aldeias de índios que mantinham uma constante instabilidade social.
A tribo de índios Tupinambáque ocupava o território disputado pelos colonos e a primeira a ser alvo da cobiça e da vontade escravizadora dos colonos. 

Deslocavam-se acompanhados de todos os membros do grupo, viviam da recolha de frutos e da rapina de outros agrupamentos tribais roubando-lhes os pertences e, inclusivamente, praticando o canibalismo dos vencidos, comportamento que de certa maneira justificava a ideia de serem animais e a determinação da sua redução à escravatura. Os colonos usaram, ainda assim, os índios como guerreiros, integrando‑os nas suas tropas, como “línguas” para contactos com outros grupos de indígenas, como batedores ou como espias levando-os com eles quando “desbravavam” o interior nos sertões ou atacavam as posições dos inimigos, quer fossem holandeses, quer fossem franceses, quer outros quaisquer que ameaçassem a segurança do agrupamento de colonos. Há relatos bastante numerosos e detalhados onde se descrevem os comportamentos violentos de ambos os bandos, colonos e índios, demonstrando uma notória insensibilidade dos vencedores e falta geral de humanidade para com os vencidos, incluindo mulheres e crianças. Ora o ponto de conflito dos colonos com os jesuítas era que, ao abrigo da alegada protecção dos indígenas, os jesuítas usavam os índios nas suas múltiplas fazendas e engenhos como trabalhadores na produção de açúcar ou algodão, mantendo um monopólio e controle sobre os mesmos índios e não deixando aos colonos o seu quinhão de trabalhadores. Havia denúncias de exploração do trabalho dos ameríndios por parte dos jesuítas: eles não pagavam pelo serviço e também não permitiam que os colonos o fizessem; impediam o contacto dos gentios com os moradores; castigavam os índios que desejavam trabalhar sob remuneração para os portugueses; não “repartiam” os índios de maneira igualitária entre os membros da sociedade; também mandaram prender o líder da aldeia do Maracanã, o que levou à revolta dos seus. Com essa conjuntura, em 15 de maio de 1661, os moradores do Maranhão decidiram expulsar os jesuítas[5]. As condições estavam criadas para o desenrolar dos acontecimentos que de seguida se referem.
Expulsão do Padre António Vieira e outros Jesuítas de São Luís do Maranhão, 8 de Setembro de 1661, Brasil (gravura Séc. XVIII)


[1] Outras fontes repetem a informação que segue: Senhora de Montargil, a 11 de Novembro de 1615 batizei a Leonarda filha de Gaspar Ximenes e de sua mulher Ana Correia. Padre António Correia. ANTT, Lisboa, Conceição Nova, M-6-? Imagem 529. No entanto, e uma vez que já não existem os registos paroquiais do local de nascimento, confio mais nuns apontamentos (datados entre 1668 e 1744) de Francisco Correia da Silva e que se incluem num Instrumento de Testemunhas e que se encontram no Arquivo da Relação Eclesiástica de Faro relativos a Rozendo Manuel da Silva.
[2] FHL, maço19n2.
[3] Barroso é notoriamente faccioso e agressivo nos termos que usa para tratar estes temas. Há que ter alguma cautela com a utilização desses textos.
[4] Veja-se  http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/padres-fora para mais informação sobre este grupo de religiosos no Maranhão.


Os filhos de Tomás Beckman e Leonarda das Neves


Ana Beckman, nascida a 15 de Agosto de 1632, na Freguesia da Conceição Nova de Lisboa, sendo madrinha Maria Mendes, de quem mais nada sei.

Juliana Beckman, nascida a 15 de Janeiro de 1634, na Freguesia da Conceição Nova de Lisboa, sendo padrinhos António Gomes d'Elvas morador na Freguesia de São Nicolau às escadas do Carmo e madrinha Isabel Aguada moradora à porta de São Francisco Freguesia das Mártires. Foi casada com André da Costa Villalobos, com geração. Veja-se ponto IV.

Gregório Beckman, nascido a 25 de Novembro de 1635, sendo padrinhos João Nunes e Catarina Pereira(?), de quem nada mais sei.

Manuel Beckman, (Manuel Bequimão), nascido em a 1 de Janeiro de 1638, em Lisboa, Conceição Nova. Foi padrinho João Nicolau morador na freguesia de São Paulo. Foi  para o Maranhão em 1662 [Costigan, 2010, p. 147.][1] e casou em 1664, com 26 anos, no Brasil, com Maria Almeida Albuquerque Pereira de Cáceres, uma mulher de famílias judaicas cunhada de seu irmão [Costigan, 2010, p. 147]. A descendência assume-se extinta. Veja-se ponto II.

Catarina Bequeman, b. a 21 de Novembro de 1640 na freguesia da Conceição Nova[2] em Lisboa e que casou com Francisco Correia da Silva com descendência no Algarve e Lisboa. Veja-se ponto III - A Ligação Algarvia.

Thomas Beckman (Tomás Bequimão) nascido a 30 de Novembro de 1643 na Conceição Nova[3] . Casou no Brasil com Helena de Cáceres, irmã de sua cunhada, com descendência. Veja-se ponto II.


 Os filhos de Tomás Beckman

As ligações dos irmãos Beckman à inteligentia do Maranhão e a Lisboa.

Num texto curioso vem referido que João Pereira de Cáceres, de quem eram genros Manuel e Tomás, foi um dos primeiros e talvez o mais importante empreendedor a instalar-se no Mearim, ainda em meados do séc. XVI (…) era rico e influente proprietário de engenhos [Fernandes, 2011, pág. 145]. Era comerciante de açúcar, homem de grande fortuna e proprietário do engenho Vera Cruz[4].
As suas duas filhas casaram com os irmãos Beckman. Tinha ainda dois outros filhos, Inácio Pereira e João de Cáceres, e viviam todos no engenho Vera Cruz propriedade de João Pereira de Cáceres, no Mearim. Ainda assim o mesmo texto afirma que Manuel Beckman o sucedeu na direcção dos engenhos. João Pereira de Cáceres, vereador mais velho da câmara em 1652, já estava em terras brasileiras pelo menos desde 1639 ano em que já comandava o forte de Gurupá[5].
Em 1652, João Pereira de Cáceres foi escolhido pelo Padre António Vieira como portador da resposta aos protestos dos moradores contra a lei desse ano que proibia o cativeiro dos índios [Lima, 2006, p. 379, nota 4]. Em 1654 João Pereira de Cáceres tinha sido indigitado para substituir André Vidal de Negreiros no governo do Maranhão demonstrando-se assim a sua importância na comunidade de São Luís[6].
Na Crónica de Bettendorff[7] é feita referência ao facto que o Colégio Nossa Senhora da Luz em 1663 tinha três pleitos, um dos quais era com Manuel Beckman que dizia respeito à herança deixada pelo seu sogro, disputada também pela companhia de Jesus [Bettendorff, 1990, p. 224].
Maria Liberman estudou outros processos de membros da família Cáceres instaurados pela Inquisição, como os de Maria de Cáceres, João da Costa Cáceres, Filipa da Costa Cáceres e Leonor da Costa Cáceres. Outros foram chamados como testemunhas como Manuel da Costa Cáceres ou Pestana e Antónia Cáceres [Liberman, 1983, p. 70]. António Baião compilou muitos processos da Santa Inquisição entre os quais os do poeta António Serrão de Castro onde são aludidos membros destas famílias [Baião, 1924, p. 9 e seg.][8].
Por outro lado, e segundo os autores João Francisco Lisboa e Maria Liberman, vão-se sabendo as ligações dos Beckman à comunidade judaica. Ambos eram sobrinhos do importante mercador de Lisboa, João Nunes de Santarém, conhecido como cristão-novo e que teve papel importante nas negociações entre portugueses e holandeses sobre os territórios ocupados pelo inimigo no Brasil [Lima, 2006, p. 381.]. À primeira vista julgou-se que sendo Portugal e Holanda velhos amigos e o duque de Bragança elevado a rei da nova monarquia, obter-se-ia a libertação pacífica dos territórios usurpados. Mal D. João se senta no trono, a 19 de Dezembro aproxima‑se do soberano o mercador de Lisboa, Jerónimo Henrique da Veiga, que supomos ser cristão-novo, e aconselha o entabulamento de boas relações com a Holanda, caso deseje a recuperação do Brasil, geográfica e economicamente. Como negociante que é, percebe que a classe e o Reino só têm a lucrar, o que D. João também reconhece. Por isso, um dos seus primeiros actos à frente do Estado consistiu em mandar uma embaixada àquele país, convencido de ser essa a melhor política. A 8 de Fevereiro de 1641 seguia para lá, chefiando o grupo de delegados, Tristão de Mendonça e os adjuntos Guilherme Rosen, holandês naturalizado em Portugal, e o mercador hebreu João Nunes Santarém [referido acima]. Entre as instruções que levavam, uma delas dizia respeito à restituição pelos holandeses das terras conquistadas, porquanto fora Portugal que as descobrira e as colonizara, de sorte que a Holanda não podia reter o que pertencia a um Estado amigo. As conferências duraram cerca de dois meses disputadas com firmeza de lado a lado. Conclui-se, por fim, um tratado englobando trinta e cinco artigos, que, no referente às conquistas, favorecia os Estados Gerais, mas a questão ficaria pendente por muitos anos ainda, nela se envolvendo elementos da estirpe judaica, uns defendendo a causa portuguesa, outros porém exigindo a indemnização dos prejuízos que sofreram no Nordeste brasileiro [Salvador, 1976, p. 353].

Os Beckman no Brasil

Os dois irmãos, Manuel e Tomás, foram cedo para o Brasil, o primeiro em 1662, com 32 anos, e o segundo alguns anos depois [Lima, 2006, p. 379].
Aparentemente a família tinha sido alvo de processo de inquirição por suspeita de judaísmo o que, pelos vistos, não foi conclusivo. No entanto a sua origem cristã-nova é dada como certa por Maria Liberman na sua obra emblemática sobre este tema [Liberman, 1983, p. 5] e ainda por Rita de Cássia Freire Silva na sua alegação jurídica[9]. Os conflitos entre cristãos-novos e cristãos‑velhos deram-se por estes assumiram que os outros privilegiariam os judeus da Diáspora na Holanda e na Inglaterra nas suas trocas comerciais. No entanto se bem que não tenhamos bases exactas para afirmar que os irmãos Beckman, promotores da revolta do Maranhão, fossem judeus, essa hipótese não seria descabida, especialmente se nos guiássemos pelo nome, que lembra bem o de judeus holandeses ou alemães. Sobre isso não insistimos [Izeckson, 1937, p. 82].
Desde 1619 que a Inquisição actuava no Maranhão [Liberman, 1983, p. 7]. O vigário geral visitador e provisor do Estado mandava constantemente papéis ao Reino apontando heresias de mamelucos, índios e cristãos-novos. Os irmãos Beckman foram denunciados à Inquisição de Lisboa como blasfemos e hereges e o Santo Ofício encarregou o comissário em São Luís de averiguar os factos através da inquirição de testemunhas. Rafael Chambouleyron[10] transcreve que além dos grandíssimos favores do sereníssimo rei para com esta missão, também o eminentíssimo senhor dom Veríssimo de Lencastre, cardeal da santa Igreja romana, e inquisidor geral de Portugal, arcebispo que foi de Braga, nos mandou por uma provisão sua impressa, e em pública forma, que os reitores destes dois colégios [Nossa Senhora da Luz, Grão-Pará e Santo Alexandre, Maranhão] fossem sempre comissários do Santo Ofício da Inquisição em todo este Estado do Maranhão [Chambouleyron, p. 188, nota 89].

II

Manuel Beckman

Nasceu em a 1 de Janeiro de 1638, em Lisboa, Conceição Nova, como se disse. Veja-se o assento.
Assento de baptismo de Manuel Beckman
Era homem bom[11] dos de São Luís do Maranhão, já nesta província, pelo menos desde 1662 [Lima, 2006, p. 378]. Manuel Beckman, o Bequimão como era chamado, era um lavrador abastado no Mearim, português de nascimento mas ligado aos negócios públicos da terra, antigo vereador de São Luís, respeitado e estimado pela seriedade e coragem de suas atitudes, “notável por sua indústria e honrado procedimento” [Marques, 1970, p. 320], (…) o espírito mais lúcido e vigoroso da colónia [Godoy, 1904, p. 317].
Ora esta vida aparentemente pacata não era isenta de conflitos e em consequência de uma desavença, Manuel, o seu irmão Tomás, o seu cunhado José de Cáceres e o alferes Jorge de Barros foram presos acusados da participação do crime de morte de um trabalhador do engenho de Vera Cruz, filho do ex-sargento-mor Agostinho Correia. Os Beckman passarem dois anos na prisão de Gurupá, Barros foi enforcado [Morais, 1877, p. 402] e esquartejado e o feitor do engenho degredado para Angola por não testemunhar favoravelmente aos juízes [Lima, 2006, p. 382]. Os Beckman só foram libertados em 1672[12].
Manuel começou a sua vida política sendo eleito vereador de que prestou juramento a 14 de Janeiro de 1668 [Lima, 2006, p. 343] como representante das vontades e ensejos dos colonos residentes perante os representantes da Coroa Portuguesa.
Aliás e curiosamente, existe um acórdão da vereação da Câmara de São Luís do Maranhão, do Séc. XVII, do qual consta a assinatura de Manuel Bequimão. Adiante a imagem da sua assinatura de uma carta que ele escreveu a D. Pedro II.
Assinatura de Manuel Beckman na carta escrita a D. Pedro II (Arq. Biblioteca da Ajuda, Códice 50-V-37, fls. 39 a 44, Lisboa.)
Ao opor-se às políticas do general governador Inácio Coelho da Silva é acusado pelo governador de ser um homem turbulento. Esta acusação e outros processos pendentes como uma investigação pela Inquisição levam-no a escrever para Portugal. Protestou ao Rei (D. Pedro, Príncipe Regente) escrevendo-lhe uma carta em 1679[13], quando já pela segunda vez em menos de dez anos, se encontrava preso, degredado, no Forte de Gurupá, amargando os dissabores de seu génio insurrecto [_____, Acusar…, p. 21]. Daquele cárcere, perdido na imensidão da selva amazónica, o prisioneiro dirigiu à coroa comovente petição, datada de 13 de Junho intitulada Representação a S M de hum homem culpado numa morte e com a relação do sucedido e algumas notícias do Maranhão. Nessa correspondência Manuel Beckman procura inocentar-se, a seu irmão Thomaz Beckman [Liberman, 1983, p. 71-73] e aos restantes envolvidos no processo de morte do dito trabalhador do engenho. Desta situação resulta uma devassa do governador Coelho da Silva a Manuel Beckman de que resultou que o Rei ordenou o mandasse para sua casa, pois bem castigado estava com o tempo de uma prisão tão larga.[14]
D. Pedro II  (*1648, R 1683, 1706)
Nessa missiva, Manuel Beckman relata as miseráveis condições de vida das populações e a exploração a que estavam sujeitas. Acrescenta ainda que os governadores que vêm para o Maranhão não amam o seu rei porque atraiçoam as suas Leis e a sua ordem. Dá conta de que os quatros fortes das redondezas, Gurupá, Itapicurú, Maranhão e Pará, estão em estado lastimável e abandonados pelos governadores sendo um risco para os colonos permanentes e ao Império Português. Da devassa a que fora submetido, não resultara sua culpabilidade e El-Rei o mandou pôr em liberdade[15].
Curiosamente esta carta de Manuel Beckman foi escrita um ano depois do Santo Ofício ter começado umas inquirições sobre o estado de ortodoxia dos colonos do Maranhão. Foram inquiridores no Maranhão Frei Cristóvão de Lisboa, Padres Manuel de Lima, João Filipe Bettendorf[16], Manuel de Brito e Inácio da Fonseca e Silva[17]. Os Beckman tinham sido alvo de uma denúncia feita em 1675 pelo Padre Francisco da Madre de Deus que se valeu de um depoimento de uma escrava, Grácia Tapanhuma, que o acusa de ter celebrado uma missa na capela da sua fazenda [Liberman, 1983, p. 78].
A descrição do episódio alvo de inquirição é contado como segue e reproduz-se pela sua curiosidade. Foi uma cerimónia em que participou Tomás Beckman e a sua família e ainda os seus escravos índios e negros. Num Domingo de Páscoa, vestido em traje clerical, ele "celebra" na ermida de sua fazenda uma missa, levantando a hóstia e o cálice. Depois todo um grupo, acompanhado pelo cunhado de Tomás, Inácio Pereira, saiu festivamente numa procissão, para o qual Tomás armara um pálio que seus escravos carregavam, todos vestidos a carácter, simbolizando anjos. Inácio Pereira acompanhava a procissão com um livro nas mãos cantando ladainhas. E ainda que no dia anterior ao da procissão Tomás Beckman realizou a cerimónia do lava-pés nos seus escravos. Agravando a denúncia, um dos donos da escrava Tapanhuma testemunha que presenciou a António da Costa, sobrinho de Tomás Beckman, ser violentamente açoitado e ainda, em desacato à religião católica, haviam levantando duas cruzes em sua fazenda, para serem pisadas pelos moradores. Mas segundo as outras testemunhas, António da Rocha Porto, 53 anos, António de Matos Quintal, 53 anos, Vital Maciel Parente, 59 anos e sua mulher Maria de Melo, 27 anos informam que, para além dos escravos, estas práticas heréticas foram praticadas pela família Beckman os únicos brancos participantes [Liberman, 1983, p. 78-79]. 
Nota curiosa: o sobrinho António da Costa, referido acima, podia ser filho de sua irmã Juliana Beckman casada com André da Costa Vilalobos cuja descendência também andou pelos "Brasís".    
O padre Manuel de Brito certificou à Santa Inquisição estas ocorrências sobre os irmãos Beckman e sobre um seu cunhado, Inácio Pereira. O comissário encarregado do seu processo foi o padre Inácio da Fonseca e Silva[18] e contra eles foram registados cinco testemunhos, entre eles, os de Vital Maciel Parente[19] e de sua jovem mulher Maria de Melo [Lima, 2006, p. 384].

A Revolta de Manuel Beckman, o Levante do Maranhão ou a Revolução do Maranhão

Francisco Teixeira de Moraes escreveu um relato [Morais, 1877, p. 303] do que se passou em 1692, oito anos depois do sucedido. Sendo pró-governamental, pinta um quadro bastante negro de Manuel Beckman em nada justificando o seu comportamento.
No entanto Carlos de Lima faz um relato bastante completo e presta informações muito detalhadas sobre tudo o que se passou, apoiado nas obras de Marques, João Lisboa [Lisboa, 1976, p. 386], Berredo [Berredo, 1989, p. 507.] e Varnhagen [Varnhagen, 1978] entre outros. Sabe-se que os dois irmãos fizeram parte da Junta dos Três Estados criada na sequência da Revolta do Beckman que teve lugar em 1684. Manuel ficou como representante da nobreza e Tomás como adjunto. Também foram cabecilhas o escrivão da vedoria, Jorge Sampaio de Carvalho[20], o vigário provincial de Nossa Senhora do Carmo, Frei Inácio, O Venturoso e o carapinha Francisco Dias Deiró [Moura, 2004, p. 67] procurador do povo.
Bequimão articulou a conjura com sessenta companheiros, que se reuniam à socapa no convento dos capuchinhos. Desde tempos que seu irmão [Tomás] vinha colando pasquins em prosa e verso pelas paredes, pois não havia jornais e essa era a imprensa da época, os quais pasquins concitavam o povo à revolta e criticavam a gente do estanco e do governo que o sustentava. Mais violentos e desabusados ataques faziam os frades capuchos e carmelitas nos seus sermões. Todo o clero "aderiu à revolta", menos os jesuítas, por causa das turras com a nobreza rural desde o caso da escravização dos índios. O próprio bispo não foi estranho ao sucesso e como que até o favoreceu [Bettendorff, 1990, cap. 1]. Tentou conseguir adesões de outras povoações, nomeadamente de Belém e de Tapuitapera (actual Alcântara) mas sem sucesso uma vez que estes não apoiavam a deposição das autoridades reais apesar de concordar com a extinção do Estanco.

Mapa com a localização de São Luís e Tapuitapera, hoje Alcântara, do lado direito do rio e defronte de São Luís (Atlas de João Teixeira Albernaz, de 1640, Torre do Tombo, Lisboa)
O governador que queriam ver posto fora era Francisco de Sá e Menezes aos olhos de todos culpado de se aproveitar, em conjunto com o Estanco, de explorar e tirar partido dos poucos barcos que aportavam a São Luís para expedir cargas particulares e pessoas não deixando espaço livre para os outros comerciantes. Além disso era acusado de usar os escravos e tropas para suprir as necessidades de trabalhadores das suas roças e fazendas impedindo-os de trabalhar para os outros fazendeiros. Um exemplo desta prepotência era o facto dos armazéns do seu palácio serem utilizados para guardar tanto as suas próprias especiarias como as do assentista Pascoal Pereira Jamsen, do Estanco. Havia uma sociedade entre ambos. O cravo que o governador embarcava ia junto com o do Estanco.
Contrariamente, e pouco depois de criado o bispado do Maranhão, o seu primeiro bispo, D. Gregório dos Anjos, alinhou, com o povo e com as suas reivindicações e em oposição aos Jesuítas ao disputar a autoridade sobre os índios e escravos. As suas críticas eram também dirigidas ao governador e ao Estanco. Mas com a excepção dos Jesuítas acusados, carmelitas e franciscanos também criticaram assiduamente dos seus púlpitos o status quo até poucos dias antes da Levantada.   
O movimento fez-se na noite de 14 de Fevereiro de 1684, em São Luís do Maranhão, para acabar com os monopólios dos Jesuítas e da Companhia Geral do Comércio do Maranhão mais conhecida como Estanco criada em 1682[21].
Grande parte da população maranhense estava insatisfeita com a baixa qualidade e altos preços pagos pelos produtos manufacturados e comercializados pela Companhia na região. Outros produtos como trigo, bacalhau e vinho chegavam à região em quantidade insuficiente, demoravam a chegar e ainda vinham em péssimas condições para o consumo. Havia também o problema de falta de mão-de-obra escrava na região. Os escravos fornecidos pelo Estanco eram insuficientes para as necessidades dos proprietários rurais e os seus preços muito altos. Uma solução seria a escravização de indígenas, porém os jesuítas defendiam[22] os autóctones da escravidão [Azevedo, 1999, p. 123]. 
Tomás Beckman também já tinha tido problemas com as autoridades por pertencer ao rol de homens versistas, como fabricadores de satyras e pasquins contrários ao decoro dos governantes. A Câmara já o tinha processado por desacato ao apelo que lhe fizera para que não continuasse com os seus papéis porque com eles trazia escandalizados os ânimos [Lisboa, 1976, p. 175 e seg.].
Na tentativa de legitimar o golpe, Tomás, homem hábil e versado em Leis, foi enviado a Lisboa onde só chegou 10 meses depois tendo dado tempo a todos os seus inimigos de fazerem uma exposição tendenciosa junto do rei e da corte – Memorial das Doze Propostas[23] – e dificultando enormemente a tarefa de Tomás de pleitear a sua causa e a do seu irmão. Segundo Maria Liberman, enquanto permaneceu em Lisboa esteve alojado em casa de seu cunhado versado em Leis, que a autora não consegue identificar achando pertencer à família Cáceres. Ora segundo esta minha investigação, é muito provável que tenha sido em casa de sua irmã Juliana Beckman casada com André da Costa Vilalobos. Veja-se parte IV mais abaixo.
Não chegou a ser recebido e foi imediatamente posto a ferros e devolvido ao Brasil. Tentou fugar‑se, numa escala que os barcos fizeram em Cabo Verde, com o pretexto de ir a terra ouvir missa e escondendo-se nos gavetões dos paramentos, mas sem qualquer sucesso, sendo reconduzido a terras brasileiras onde chegaram em 15 de Maio de 1685, trazendo o novo governador tenente-general Gomes Freire de Andrade. O patacho onde vinha Tomás atrasou-se e entrou dias depois.
Enquanto isto, seu irmão Manuel, homem rico, respeitado, politicamente experiente e lavrador, senhor de engenho e comerciante [Linger, 1992, p. 22], depois de todos as decisões tomadas que incluíam a prisão dos oficiais nomeados pela metrópole, a expulsão dos Jesuítas “culpados” de impedirem a escravização dos povos autóctones índios, e da venda e sorteio e selagem dos bens do Estanco, formou uma milícia composta por outros fazendeiros e povo que ao fazerem‑no deixaram de trabalhar nas suas fazendas como era devido e necessário.
A segunda expulsão dos Jesuítas de São Luís fazia parte das decisões tomadas pela junta revolucionária. Foi o próprio Manuel Beckman quem comunicou ao reitor do colégio dos jesuitas, João Felipe Bettendorf, a decisão tomada. Transcrevem-se as suas palavras por serem das poucas que se conhecem proferidas por ele e anotadas por Bettendorf:
 Reverendo padre reitor, eu Manuel Beckman, como procurador eleito do povo, por aquele povo aqui prezente, venho intimar a vossa referência e mais religiosos assistentes em o Maranhão como justamente alterado pelas vexações que padece por terem vossas paternidades o governo temporal dos índios das aldeias se tem resolvido a lança-los fora assim do espiritual como do temporal e não por esta parte não tem que se queixar de vossas paternidades portanto notifico a vossa paternidade e mais religiosos, por parte deste alterado povo que se deixem estar recolhidos ao colégio e não saiam para fora delle para evitar alterações e morte que por aquella via se poderiam accasionar; e entretanto ponham vossas paternidades cobro em seus bens e fazendas para deixá-las em mãos de seus curadores que lhes forem dados e estejam aparelhados para o todo tempo e hora se embarcarem para Pernambuco em embarcações que para este efeito fossem concedidas. [Bettendorf, 1669, p. 363]
 E assim como se disse assim se fez..... 
Diz o Padre Iodoco Peres, da Companhia de Jesus, superior da Missão de Vossa Magestade em o Estado do Maranhão, que obrigado em parte pela razão de seu ofício, e em parte das moléstias que lhe causaram alguns dos ministros de Vossa Magestade, partira, em fevereiro de 1684, do Pará para o Maranhão, onde, à primeira chegada foi preso em o collegio, onde os mais missionários estavam presos já cinco dias havia, pelo povo levantado, com guardas à porta; e pouco depois foi expulsado com os mais para o Brazil, e mandados em dous barcos, com obrigação de pagar fretes delles (...) [Fragmento de carta do Padre Superior Jodoco Perez ao Rei transcrito por João Filipe Bettendorff, p. 404.]
À medida que o tempo passava era cada vez mais difícil manter acesa a chama do levantamento tendo Manuel Beckman tomado a decisão de extinguir a milícia entregando a tropa ao sargento-mor Costa Belo recém-chegado da metrópole e que viria, depois, a alinhar com o novo governador aplicando o golpe de misericórdia no movimento que pouco menos de um ano tinha. Manuel Beckman ficou algo inactivo retirando-se para o seu Engenho de Vera Cruz do Mearim. Finalmente este homem superior, cedendo à influência contagiosa do abandono geral, do desânimo, da indiferença e do temor, cheio de desgostos e sem ânimo para atinar com uma solução possível às dificuldades em que se via embaraçado, cruzou os braços e desgostoso viveu meses retraído sem quase sair de sua casa, esperando que o tempo viesse pôr termo a esses acontecimentos [Marques, 1970, p. 322].
Com a aproximação e chegada da frota[24] que trazia o novo governador e um juiz desembargador, Manuel Vaz Nunes [ _____, Acusar… p. 23], que tinha o objectivo de julgar a revolta, e sabedores que seriam culpabilizados dos actos praticados, saem todos em debandada. Manuel Beckman, depois de infrutiferamente ter tentado reavivar os companheiros revoltosos e face à completa debandada dos mesmos, não se acanhou e enfrentou o novo governador indo assistir com altivez [Meireles, 1977, p. 134], ao desembarque das novas autoridades. A indiferença com que foi acolhido por Gomes Freire de Andrade, que nem sequer o cumprimentou, levou-o a retirar-se para um esconderijo num engenho da localidade.
Monumento a Manuel Beckman em São Luís do
Maranhão, inaugurado em 1910.  A base, por
debaixo da pirâmide, fez parte do antigo Pelourinho
  que se pensava completamente destruído em 1889.
As pessoas intervenientes no processo e julgamento de Manuel Beckman tinham sido alvo, em anos anteriores de conflitos com ele, não ajudando em nada a sua desculpabilização. Desde o padre Inácio da Fonseca e Silva, expulso aquando da Revolta e que depois se viu ser uma fraca rês mas que foi um dos inquiridores do processo, a Vital Maciel Parente que testemunhou contra ele e não favoravelmente devido a Manuel se ter oposto à sua nomeação como sargento-mor e que agora o era, a mulher deste último com certeza por ter sofrido as consequências da não nomeação do seu marido, etc.
Manuel acabou ainda sendo traído por um afilhado seu, Lázaro de Melo[25], sendo levado à forca[26] na Praia do Armazém [Amaral, 2003, p. 86] no dia 2 de Novembro de 1685, em conjunto com Jorge de Sampaio de Carvalho, em consequência da sentença que visava a condenação exemplar dos dois líderes da Revolta do Bequimão[27]. Ao subir ao patíbulo gritou “Morro satisfeito em dar a minha vida pelo Povo do Maranhão!” ou “Pelo Povo do Maranhão, morro contente!”, verdade ou ficção ficou na memória colectiva pelas mãos dos seus historiadores.[28]

Deiró foi executado em efígie por se encontrar foragido; Belchior Gonçalves foi proscrito e castigado com açoites em público e desterrado para o Algarve; Eugénio Ribeiro e Tomás Beckman foram remetidos presos para Lisboa e degredados para Angola, depois comutada a pena para Pernambuco, dos frades que participaram um ficou preso no convento, outro foi expulso da sua igreja e outros 30 multados.
Fosse como fosse, foi pedido a Vaz Nunes no fim de Novembro desse ano que mandasse para Lisboa as diligências efectuadas no caso do Levantamento do Bequimão[29]. Num registo de uma consulta do Conselho Ultramarino, consta que Eugénio Ribeiro, de facto, foi remetido preso para o reino junto com Tomás Beckman, por Manuel Vaz Nunes, desembargador que devassara da revolta. O nome de Ribeiro, neste documento é referente a Eugénio Ribeiro Maranhão[30].
Manuel Beckman deixava viúva e duas filhas na maior miséria uma vez que seus bens haviam sido confiscados. Conta-se que Gomes Freire de Andrade praticou o acto generoso de mandar arrematá-los em segredo por pessoa segura, doando-os às infelizes [Barroso, 1939, p. 91]. Verdade? Não se sabe!

Tomás Beckman

Nasceu a 30 de Novembro de 1643 na freguesia da Conceição Nova, em Lisboa. Como se disse. Veja-se o assento.
Assento de nascimento de Tomás Beckman
Entretanto seu irmão Tomás depois de ser desterrado por 10 anos[31] por participar na revolta retorna, em 1704[32], a São Luís.
Ao cabo e ao resto, da Levantada ou Revolta do Bequimão, ficou que o Estanco foi definitivamente encerrado, a maioria dos que tinham sido perseguidos foram amnistiados e reconduzidos nos seus postos, quem cooperou foi recompensado com nomeações para cargos públicos e foram postas a descoberto a ineficácia do modelo e o abuso dos gestores do próprio Estanco como se pode ver por documentos da época como por exemplo o que sucedeu com Pascoal Jensen a quem os sócios não aceitaram as contas e que mandaram confiscar-lhe os bens remetendo-o preso para Lisboa.
Lisboa não ficou satisfeita com os sucessos de tal modo que em Fevereiro do ano seguinte de 1686 voltava a pedir informações sobre a execução dos culpados de todo o incidente.[33]
Absorvida e erradicada a intentona, a Revolta do Beckman foi lavada da história pelos poderes estabelecidos na metrópole só voltando a ser reabilitada quando uma jovem república sul‑americana necessitou de promover heróis e satisfazer e compor uma justificação ancestral de um movimento que não passava de uma réplica de outros mais antigos, mas com uma grande diferença: o sucesso.

Descendência dos Beckman no Brasil

Veja-se agora a descendência dos Beckman de acordo com o que José Ribeiro do Amaral publicou no fim de 1911 e com o que foi apurado pelo autor deste texto até este momento. Vários autores informam, entre eles Amaral, que a descendência dos irmãos Beckman tentou (e conseguiu!) destruir muita da informação e documentação arquivada nos cartórios civis e religiosos e que os ligava aos autores da revolta, para não se verem descriminados na sua vida. Esses procedimentos irão dificultar e muito a  descoberta das ligações e relações de parentesco entre os seus descendentes.

A descendência de Manuel parece não ter seguimento pois a única notícia que até ao início da segunda década do século XX se tem é que depois da sua execução lhe ficaram a viúva e duas filhas, não constante das crónicas do tempo que houvesse deixado filho varão algum, a menos que alguma das suas filhas casando-se, não houvesse dado a descendente seu o apelido de seu pai para assim lhe perpetuar o nome [Amaral, 2003, p. 23-28].

Há uma outra pista que talvez não seja disparate seguir. Numa peça de teatro intitulada Manoel Beckman, drama original brasileiro em 5 actos, da autoria de Carlos Luiz de Saules e impressa no Rio de Janeiro em 1848, (leia on-line aqui), conta-se a história da Revolta do Bequimão pondo nas bocas destas personagens presumivelmente verídicos uns diálogos assumidamente fictícios. Ora o drama desenrola-se não só à volta da morte de Manuel Beckman como à volta da paixão de uma sua pertença filha chamada Ambrosina com Manuel Serrão de Castro, senhor de engenho, e a paixão não correspondida de Lázaro de Mello por ela, afilhado de Manuel Beckman, em sua casa criado e seu traidor. Quem sabe se a descendência possível de Manuel Beckman não vem daqui? Fica a pista.

Descendência de Tomás Beckman no Brasil

No entanto, de Tomás, consta ter havido numerosa descendência que usou variantes do apelido como Bequimão, Bekman ou Bequimanz.
Compulsados que foram vários documentos antigos no Brasil, Amaral depara-se com a referência a um filho de nome Roque, nascido em São Luís, que em 1717 é designado (eleito) para trabalhar no Senado da Câmara, mas uma carta régia, enviada ao governador do Maranhão [Liberman, 1983, p. 116], impede que ele exerça funções públicas em razão dos antecedentes familiares[34]. Por essa provisão de 20 de Novembro de 1717 se dizia que tratando da introdução de Roque Beckman no senado recomendava que se tivesse causado algum escândalo não fosse ele mais admitido nessa corporação [JAP 7Jun1915]. Uma outra versão diz que só ficaria impedido se prevaricasse nas culpas das perturbações [Cantanhede, 2011, p. 61]. Foi mandada uma carta pelo governo da metrópole datada de 15 de Maio de 1721 respondendo a queixas feitas por um sargento-mor sobre o revoltoso Roque Beckman e outros [JAP 7Jun1915][35]. Uma outra carta de 15 de Agosto de 1723 faz queixa do comportamento de Roque[36].

Manuel Inocêncio Beckman ou Bequimanz, em 1725, aparece referido como nessa data ter conseguido obter sentença para poder servir como procurador da Câmara em São Luís do Maranhão, e nas alegações diz que não deve ser discriminado pois Manuel Bequimão era apenas seu tio. Já tinha sido escrivão do Juízo Eclesiástico.
É comprovadamente irmão de Roque Beckman e como tal, filho de Thomas Bequimão e de D. Elena de Almeida [Albuquerque Pereira de Cáceres] conforme é referido no acento de casamento. Sabemos que nasceu em São Luís do Maranhão e lá se casou a primeira vez a 14 de Fevereiro de 1711 com Maria Juliana Vilalobos, filha do Capitão André da Costa Silva e de sua mulher Juliana da Costa, todos moradores nesta cidade e fregueses nesta freguesia, as testemunhas que presente foram o Capitão Francisco Gomes Vellozo, o Capitão Diogo Pedro, e Maria Bandoa, viúva, e Maria de Oliveira[37]. (Veja-se, mais adiante, a descendência das irmãs de Manuel e Tomás Beckman.)



Assento de casamento de Inocêncio Beckman com Juliana de Vilalobos (provavelmente sua prima)
(Use as setas direita e esquerda para visualizar todo o documento.)

Depois de enviuvar, Manuel Inocêncio Beckman, voltou a casar com Mariana de Castro Silva Barbosa de quem teve geração. Assim sendo, do primeiro casamento houve a


 1) Tomás Beckman, referido em 3).
 2) Joana da Purificação Beckman.

Do segundo casamento houve

3) Inácio de Loyola Beckman, nasceu em São Luís a 2 de Abril de 1721, era tabelião, escrivão por mais de três décadas na Câmara Municipal de São Luís do Maranhão [Coutinho, 2005, p. 212] e, segundo documentos datados de 1793 e 1789, síndico dos religiosos de Santo António. Inácio e seu meio-irmão Tomás 1) acima, aparecem num processo de justificação de Manuel Corrêa de Faria[38] que casara com Joana Francisca Beckman filha de Benedita Maria do Rosário Beckman, referida abaixo. Ignoro se houve descendência. No óbito do pai ocorrido em 1/3/1764 já é referido como falecido.

4)      Dr. Bernardo Bequimão foi sacerdote do hábito de São Pedro e já era padre em 1759 [Coutinho, 2005, p. 211]. Em 1779 era promotor do Juízo Eclesiástico e cura da Sé de Maranhão e em 1792 ainda era vivo.

5)      José Valério Beckman, nascido em São Luís a 21 de Dezembro de 1726, falecido jovem.

6)      Uma filha que pouco sobreviveu.

7)      Benedita Maria do Rosário Beckman que segue.

Esta Benedita Maria do Rosário foi casada com o Capitão Francisco Nogueira de Sousa de quem houve, pelo menos uma filha
   
7.1) Joana Francisca Beckman Nogueira (Joana Francisca Beckman de Faria, de casada), que foi casada com Manuel Correia de Faria, escrivão da Câmara de São Luís do Maranhão, nascido em 1734 teve mais do que os cinco filhos que se citarão de seguida. Os primeiros quatro fizeram habilitações de génere, mas pelo menos um deles não seguiu a carreira eclesiástica como se dirá.

7.1.1) António Juliano Correia de Faria

7.1.2) Manuel Raimundo Correia de Faria, seguiu a carreira das armas e foi vereador em São Luís do Maranhão.

7.1.3) José Benedito Correia de Faria

7.1.4) Raimundo Correia de Faria

7.1.5) Francisco Raimundo Correia de Faria, que estudou matemática em Coimbra.

7.1.6) Maria Raimunda Correia de Faria, que sendo solteira teve com o fazendeiro e capitão Francisco Raimundo da Cunha, a Manuel Odorico Mendes, o “Virgílio Brasileiro” ou o “Virgílio Maranhense”, com reputada importância na literatura portuguesa. Veja-se biografia[39]. Com descendência [Coutinho, 2005, p. 214]. Depois de oficializado o casamento teve, pelo menos, mais um filho.

                7.1.6.1) Francisco Raimundo Beckman [Coutinho, 2005, p. 129], referido como tendo levado a juízo um testamento em 23 de Janeiro de 1810.

Tomás Raimundo Beckman Júnior, provavelmente aparentado com os Raimundo Beckman citados anteriormente, foi escrivão dos órfãos da cidade de Alcântara e do seu termo como consta numa guia de recebimento de dinheiro daquele juízo visada em 7 de Dezembro de 1870. Num inventário documental[40], datado de 1858 é Juiz Municipal do Tribunal da Relação do Maranhão em Alcântara. O Tenente Tomás Raimundo Beckman em Novembro de 1858 era presidente da Câmara Municipal de Alcântara e seu termo. Foi administrador da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário em 1867.


José João Beckman Caldas[41] assinou duas certidões como pároco da freguesia de N.ª Sr.ª da Vitória datadas, uma de 1790 e outra de 1803. Também era vigário-geral da diocese. Intitula-se sacerdote secular e escrivão na Câmara Eclesiástica na cidade do Maranhão (final do Séc. XVIII) [Coutinho, 2005, p. 125-126]. Em sessão das cortes portuguesas foi redigida a primeira Constituição liberal a 23 de Setembro de 1822 de cujo elenco de deputados fazia parte Beckman Caldas [app.parlamento.pt].

Miguel Ângelo Beckman, que faz um pedido reflectido nesta Carta do governador e capitão-general das capitanias do Maranhão e Piauí, D. Fernando António de Noronha, para a rainha D. Maria I, sobre o pedido de Miguel Ângelo Bekman de confirmação de patente no posto de capitão da 6.ª companhia de Pedestres da vila de Alcântara, datada de a 24 de Maio de 1797.

João António Beckman foi administrador de diversas rendas e inspector da Alfândega de Paraíba de 1835 a 1841.

Miguel Eliseu Beckman foi capelão da catedral de Maranhão em 1859.
Catedral Metropolitana de São Luís do Maranhão
(Bernard Lemercier, 1860, Biblioteca Nacional Digital)
Pedro Beckman, rico, foi carcereiro da Cadeia Pública da capital em 1860 e mais tarde sargento-vago-mestre do corpo de polícia. Ainda vivia em 1879 era magro e de estatura bastante elevada.

João Baptista da Silva Beckman, era delegado da polícia na cidade de Vigia, província do Pará, em 1868. Sabemos da existência deste indivíduo por ter assinado um documento que prova a passagem de um navio, ironicamente chamado Odorico Mendes, entre 11 e 14 de Abril desse ano.

Francisco Xavier Beckman faleceu sendo chefe da seção do Tesouro Público Provincial em 1869. Foi um músico e violinista reputado tendo sido professor de Leocádio Rayol [Sobrinho, 2004, p. 21] e regente da orquestra do Teatro São Luís durante muitos anos. Foi professor de instrumentos de corda no colégio Perdigão, em São Luís em 1867 [JAP 26Jun1915].

"A Pacotilha" de 28 Junho de 1911 e de 19 de Abril de 1913.
Rodolfo Olímpio Beckman [CDMPJM p. 178, 196, 291, 333], em 1877 referido num auto por requisição de dívida de que é autor no tribunal da relação do Maranhão, Juizado dos Órfãos. E noutro em 1882. Ainda outro, em 1859, em que é referido como réu no auto de sumário de culpa movido pelo Promotor Público contra o Alferes Francisco Herculano Barbosa e o Alferes Rodolfo Olímpio Beckman, pelo crime de espancamento que um cometeu no outro e pela desordem que acusaram com a briga no consultório da Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Num outro caso em 1882, Autos de Denúncia Crime movida contra o alferes Rodolfo Olímpio Beckman pelo crime de injúrias verbais e desobediência ao Juiz de Paz do 1.º Distrito. Tem o seu aniversário a 6 de Abril[42]. A 18 de Abril de 1914 em sessão ordinária da Câmara Municipal de São Luís do Maranhão foi indeferida a petição de Rodolfo Beckman pedindo a relevação do imposto para os seus carros, empregados na condução de carnes verdes [JAP 18Abr1914]. Na Rua de Santa Rita foi inspeccionada a cocheira de propriedade de Rodolfo Beckman [JAP 16Mai1916]. Aparece relacionado como inscrito no quadro social do Crédito Mútuo Predial [JAP 20Mai1914]. Pelo jornal, comunica a mudança de residência, em nota de 6 de Junho, para a rua do Apicum, n.º 2 [JAP 7Jun1917]. Foi sua mulher [JAP 20Abr1918] Inês Duarte Beckman que é referida como se tendo inscrito na Secção Predial da Caixa Popular [JAP 9Mai1914] e que aniversaria a 19 de Abril [JAP 19Abr1916]. Faleceu a 8 de Março às 13h. Era mãe de Ildemira Leontina Beckman e irmã das senhoras Ana Duarte Nunes esposa de Satyro Nunes, Maria Aurora Pacheco casada com Firmino Pacheco e a senhorinha Almerinda da Conceição Parada casada com Feliciano António Parada [JAP 9Mar1926][43]. A 16 de Abril de 1926 Ildemira casa-se civilmente com Julião Alves de Amaral. Foram testemunhas os tios Satyro e esposa, a prof.ª Joana Rita Campelo, o pai Rodolfo, Francisco António de Miranda e Lúcia R. Ferreira [JAP 14Abr1916].

Crispim Olímpio Beckman [CDMPJM, p. 212], também em 1887, é referido nos autos cíveis de recursos e requerimentos para fins eleitorais, tendo como recorrentes e recorridos pessoas diversas e requerido o Juiz de Direito de Alcântara Pedro António Alexandrino Beckman, inventariante de testamento [CDMPJM, p. 72 do ficheiro PDF]. Num outro processo datado de 1882, é denunciado nuns Autos de queixa‑crime movida contra Olímpio Beckman a requerimento do Promotor Público, acusado pelo crime de espancamento em Raimunda Roberta Pinheiro e em seu filho Severo António Pinheiro.
Raimundo Olímpio Beckmam participa o nascimento de sua filha, reconhecida, Maria José Beckman, nascida a 11 de Setembro 1920 em São Luís do Maranhão [JAP 17Set1920].

Raimunda Beckman, falece a 27 de Abril de 1923 às 9 horas da manhã, com 39 anos de idade. A inditosa moça era irmã do nosso amigo sr. Rodolfo Beckman. O enterro sairá da casa à rua do Apicum, n.8, amanhã às 8h da manhã [JAP 27Abr1923].

Ursulina Beckman Filgueiras que celebra a sua onomástica a 17 de Janeiro [JAP 17Jan1916]. Irmã dos anteriores. Fica registado no jornal no dia 28 de Junho de 1924, o seu óbito, em que estão presentes seu irmão Rodolfo Beckman e família, Maria Beckman e Alfredo Cabral e família, Filomena Cabral, irmãos, tios, cunhadas e primas [JAP 28Jun1924]. É publicada uma convocatória/convite da Sociedade de Auxílios Mútuos, Victor Marques Filgueiras, Inês Duarte Beckman. Provavelmente é o nome do marido de Ursulina uma vez que a notícia é publicada em 1926 dois anos depois da sua morte [JAP 27Nov1926].

Tenente Rodolfo Beckman Cabral foi nomeado contínuo do Tribunal de Justiça [JAP 15Jul1927] sendo oficial do mesmo.               

Maria Beckman irmã dos anteriores, assim como os tios Filomena Cabral e Alfredo Cabral, participaram nas exéquias de Raimunda [JAP 26Mai1923].

Alferes António Carlos Beckman, juiz do Juízo da Provedoria de Resíduos e Capelas, em Alcântara, no qual se pode consultar o processo de Autos cíveis nos quais Tomás Alexandrino Beckman e outros vêm requerer ao Juízo da Provedoria de Resíduos e Capelas, como representantes da mesa administradora da Irmandade do Glorioso S. Benedito, requerer a nulidade da eleição [CDMPJM, p. 217]. A sua exoneração do posto de agente fiscal dos impostos de consumo na 21.ª circunscrição deste Estado [Maranhão], foi confirmada a 3 de Novembro 1911 e vem publicada no jornal [JAP 7Nov1911].

Casimiro Francisco Beckman, era, em 1911, escrivão de um cartório da cidade de Alcântara. Num caso datado de 1888 [CDMPJM, p. 343], Autos de denúncia crime movida por Leonardo Severo Martins contra Raimundo Nonato Ribeiro e [CDMPJM, p. 343] Francisco Beckman, pelo crime de falsificação de certidão eleitoral. Casimiro foi nomeado mordomo das festas de N.ª S.ª do Livramento em 24 de Novembro em 1912 [JAP 10Set1912].

Manuel da Luz Beckman [CDMPJM, p. 228], em 1898, é requerente no juízo de Direito do Superior Tribunal de Justiça Autos cíveis de petição nos quais Manoel da Luz Beckman, como procurador de Raimundo Rufino Pereira, vem requerer que lhe seja concebida licença para advogar.

Celeste de Sá Beckman [CDMPJM, p. 230], em 1900 referida num auto de inventário cujo inventariante foi Mariano Zacarias Beckman, actuando como escrivão do tribunal Casimiro Francisco Beckman. Este Mariano Zacarias Beckman por decreto de 20 de Setembro de 1911 foi nomeado Capitão Ajudante do 232.º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional [JAP 27Out1911]. Foi eleito como vereador em Alcântara a 26 de Julho de 1914 [JAP 3Ago1914].

Manuel Lázaro Martins Beckman [CDMPJM], p. 263.] é referido num processo em péssimo estado, cujo teor é: Autos cíveis de petição na qual o viúvo Manoel Lázaro Martins Beckman vem requerer que se proceda ao inventário do espólio de sua falecida esposa, Raimunda Lopes Beckman. Manuel comprou uma casa de meia morada, sob o número 14, na Praça da Matriz, que tinha como vizinhos, por um lado, a Câmara Municipal e do outro, um terreno onde por ordem de Antonino da Silva Guimarães se edificara “um quarto de casa que serve de Armazém àquele senhor”, [LRI-A, p. 137, n.º de ordem 362, 10/06/1926].

António Onofre Beckman [CDMPJM, p. 375], em 1934, como escrivão da delegacia da Polícia, na Corte de Apelação, num inquérito policial. Em 1919 é relacionado como vereador da Câmara de Alcântara [JAP 22Ago1919]. Foi nomeado agente fiscal das rendas estaduais em S. João Côrtes, município de Alcântara [JAP 12Mai1919]. Em 1928, era secretário da Directoria da Devoção de São Benedito, em Alcântara [JAP 7Mai1928]. Membro do Partido Social Democrático, de Alcântara [JAP 14Set1934]. Existem partituras de marchas fúnebres de sua autoria no acervo João Mohana [PEC-SECM, 2007, p. 58].

No Jornal “A Pacotilha” de 1920, a 12 de Novembro, faz-se uma relação dos nomeados para integrarem a comissão de festas desse ano a 22 de Dezembro em que, simultaneamente se incluem, como mordomas, Maria Beckman, como mordomos, António Onofre Beckman, Manoel Lázaro Beckman, Mariano Zacarias Beckman e Raimundo Beckman.
No Jornal “A Pacotilha” de 1910, a 9 de Novembro, faz-se uma relação dos nomeados para integrarem a comissão de festas desse ano em que, simultaneamente se incluem, como mordomas, Julieta Beckman, Hortência Beckman, Maria Beckman Berniz, e como mordomo ao Alferes António C. Beckman [JAP 9Nov1910][44].

Raimundo Nascimento Beckman vem referido no mesmo jornal “A Pacotilha”, mas de 1910, 30 de Março, numa relação de eleitores de 1.ª e 2.ª secções. Provavelmente o mesmo que faz queixa na Polícia por ter sido espancado por Florêncio do Nascimento [JAP 28 Mai1918].

António Pinto Beckman é nomeado Tenente-secretário do 81.º Batalhão de Reserva, conforme se vê do decreto de 11 de Novembro de 1911 publicado no Diário Oficial do Rio [JAP 21Nov1911]

Maria T. Beckman é referida como se tendo inscrito na Sociedade de Crédito Mútuo, na série Económica [JAP 2 Fev1914].

Maria Firmina Beckman aparece relacionada como inscrita no quadro social do Crédito Mútuo Predial [JAP 20Mai1914].

Esmeralda Correia Beckman aparece relacionada como inscrita no quadro social do Crédito Mútuo Predial [JAP 15Dez1915].
Igreja Matriz de St.º Inácio de Loiola, Pinheiro, Maranhão
Tomás Beckman Júnior é referido como se tendo inscrito na Secção Predial da Caixa Popular [JAP 4Jun1914]. Aparentemente era proprietário da Funilaria São João[45], na Rua da Cruz 120, canto com a rua da Fonte das Pedras [JAP 6Fev1915] onde se casou a 30 de Outubro de 1917. Tinha a patente de tenente quando casou [JAP 30Out1917]. Num edital datado de 11 de Outubro de 1917, o escrivão dos casamentos, publica faço saber que pretendem casar-se Tomás Beckman, filho solteiro, artista, e Ambrosina Lopes Pinto (nascida a 18 de Novembro [JAP 18Nov1919]), solteira, de serviços domésticos, ele filho legítimo de Tomás Alexandrino Beckman, falecido em 11 de Março de 1901 e Raimunda Correia Beckman de 49 anos de idade residente nesta cidade, com 28 anos de idade, dizendo ser natural da cidade de Alcântara, deste estado e residente nesta capital; ela filha reconhecida de Guilherme Lopes Pinto, filho, falecido a 17 de Março de 1901 e Ana Amélia dos Santos, de 39 anos de idade, residente nesta cidade, com 23 anos de idade dizendo ser natural e residente nesta capital [JAP 15Out1917][46]. Em 17 de Outubro de 1919 celebra o seu aniversário e é referido como capitão [JAP 17Out1919] assim como em 1921 em cuja listagem se faz referência ao alferes com o mesmo nome, mas esse sim proprietário da funilaria São João [JAP 17Out1921]. É eleito vogal do Conselho Fiscal da União Militar [JAP 19Mar1919]. A 28 de Março de 1924 deflagrou um incêndio nos armazéns com que os seus bens foram parcialmente destruídos [JAP 28Mar1924].

Centro histório da cidade de Alcântara, antiga vila de Tapuitapera.

João Pinto Beckman, nascido a 19 de Agosto de 1918, filho natural de Raimunda Correia Beckman [JAP 28Ago1918], provavelmente parente próxima dos anteriores conforme se pode inferir de uma necrologia (17 de Agosto) em São Luís de D. Joana Correia do Prado. 
António Faustino do Prado e família, José Bassone Correia e família, Raimunda Correia Beckman e seus filhos, (ausentes) João Correia Beckman e família, (ausentes) Anézio Bassone Ribeiro e Floriano Bassone Ribeiro, penhorados agradecem a todas as pessoas que têm enviado pêsames pelo falecimento da sua inesquecível esposa, mãe, filha, irmã, sobrinha e prima Joana Correia do Prado (…) [JAP 18Ago1911]. Foi eleito presidente do Centro Artístico Operário Pinheirense em 16 de Dezembro de 1928 [JAP 14Jan1929].

Miguel Arcanjo Correia Beckman celebra o seu aniversário a 8 de Maio [JAP 8Mai1915]. Foi casado com D. Virgínia Beckman e baptizaram a sua filha Leutres a 12 de Outubro de 1919, sendo madrinha D. Raimunda Correia Beckman e o capitão José Ferreira da Silva [JAP 13Out1919].
"A Pacotilha", Maranhão, 28 de Novembro de 1916
Raimunda Cândida Beckman faz queixa na polícia de São Luís por sua mala ter sido violada sendo-lhe roubado um vestido [JAP 19Jul1915]. Por telegrama chegado à redacção do jornal A Pacotilha ficou-se a saber do óbito da mesma no dia 28 do mês passado (Maio de 1924) em São Bento onde se encontrava em tratamento. Tinha 32 anos de idade [JAP 12 Jun1924].

Raimunda Ribeiro Beckman foi registada no dia 15 de Maio de 1928, em São Luís filha legítima de Nelson Correia Beckman [JAP 16Mai1928] assim como

Teresinha do Menino Jesus Beckman, filha legítima, nascida a 10 de Outubro de 1929 [JAP 11Out1929].

Benedita de Jesus Beckman cujo aniversário era a 7 de Novembro [JAP 7Nov1936].

Nelson Correia Beckman residia em São Luís do Maranhão na Rua de Santa Ana, 350 [JAP 18Set1934] e era proprietário do quino à Rua de Santanna canto com a Rua de São João, [um cofre que] ali mantém a favor dos infelizes lázaros [JAP 3Mai1935]. O jornal informa que legalizou a sua casa de jogo na Rua José Augusto Correia [JAP 24Mai1935].

Santóca C. (Correia?) Beckman, festeja o seu aniversário a 15 de Abril [JAP 15Abr1916].

Maria Victória Beckman faz anos a 27 de Janeiro [JAP 27Jan1917].

O recorte de jornal "A Pacotilha", São Luís do Maranhão, de 2 de Setembro de 1912, com mais um Beckman por identificar.


João Correia Beckman e a sua esposa D. Leonor Reis Beckman participam o nascimento de seu filho Clodomir a 16 de Janeiro de 1916 [JAP 29Jan1916]. Noutra notícia mais triste se diz que a 8 de Junho de 1922 falece D. Leonor Reis deixando viúvo e seis filhos tudo na cidade de Pinhero [JAP 9Jun1922]. A 27 de Janeiro de 1937 declara, com assinatura reconhecida, que se afasta definitivamente do Partido Republicano Maranhense e de qualquer outro partido político, ficando dessa forma completamente independente [JAP Fev1937].

Miguel Correia Beckman é, a 6 de Novembro de 1937, exonerado, de acordo com a Chefatura da Polícia, do cargo de Delegado da Polícia do município de Pinheiro [JAP 12Nov1937].

Romão Maranhão Beckman dos Santos alistou-se no “24 de Caçadores”, a 19 de Janeiro de 1922 [JAP 20Jan1922].

José Cupertino Borges de Araújo, filho natural de Felinta Beckman Borges, informação de 4 de Outubro de 1922 [JAP 4Out1922].

Para as festas de N.ª S.ª do Livramento em 17 de Dezembro de 1916 foram nomeados mordomos, Manuel Beckman, Tomásio Beckman, Tomás Beckman, António Onofre Beckman e Raimundo Nascimento Beckman [JAP 14Out1916].

Augusto Floriano Beckman apresentou uma queixa na 2.ª Delegacia de São Luís do Maranhão contra um desordeiro que desrespeitava a sua família [JAP 14Mar1935].

Iberê Oliveira Beckman faz notícia por haver promovido desordem à Praia do Cajú e foram recolhidos ontem num dos “apartamentos” da Central [da Polícia] [JAP Dez1938].

Como se vê pela listagem, está longe de ser compreendido este ramo da árvore genealógica da família Beckman que carece de aturada investigação. Aqui deixamos estas pistas. 

Curiosidades em São Luís e outros lugares

Foi construída uma pirâmide comemorativa no dia 31 de Julho de 1910, conforme se noticia na RevistadeHistória.com.br no artigo "O Enígma da Pirâmide" (leia aqui) ou no jornal “Jornal da Tarde”, Maranhão, n.º 179, de 1 de Agosto de 1910[47] e cuja foto se pode ver acima. Esse pelourinho foi fundado em 1815.

Há ainda que referir que o novo edifício da Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão, em São Luís, inaugurado em 2008, tem o nome de “Palácio Manuel Beckman” e onde é atribuída a Medalha de Mérito Legislativo Manuel Beckman[48].

Na cidade de São Luís de Maranhão há uma loja maçónica chamada Loja Maçônica Beckman, na travessa de São João, 22, São Luís, 65010-000 Brasil.


A actual Prefeitura Municipal de Bequimão está localizada a 368km de São Luís, na nascente do rio Itapetininga. Os seus primeiros habitantes deram-lhe topónimo de Cabeceira, mudando‑o, em 1918, para o de Santo António das Almas. Em 1923, tornou-se município, recebendo o nome do então governador do Maranhão, Godofredo Viana, o qual seria mantido até 1930, quando foi trocado, por questões políticas, passando à jurisdição do município de Alcântara. Em 1935, por Decreto-Lei assinado pelo capitão António Martins de Almeida, à época interventor federal do Maranhão, teve restaurada a sua condição anterior. Em Abril de 1939, foi elevado à categoria de cidade.

Há ruas com o nome de Manuel Beckman em Piratininga, Osasco, SP; Panambi, RS; Monte Castelo, São Luís, MA; e Rio de Janeiro, RJ.

Para quem gosta, pode ler a peça de teatro com o título Manuel Beckman, drama histórico em verso e em seis actos da autoria de Domingos Joaquim da Fonseca e publicado em Pernambuco em 1888. Leia aqui

Vejamos de seguida as irmãs de Manuel e Tomás Beckman.
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[1] Carlos de Lima já o dizia, p. 378.
[2] Aos 21 de Novembro de 1640 baptizei a Catarina filha de Thomaz Biqimão e de sua mulher Leonarda das Neves, foi padrinho Jaqes Stuberat morador nesta freguesia e madrinha Maria de Bairros moradora nesta Freguesia. Banha. ANTT, Lisboa Conceição Nova, M-8-29, imagem 33.
[3] Nasceu a 30 de Novembro de 1643 na mesma freguesia. O pai é referido como Thomas deCimão, sendo padrinho Roberto Coque morador na freguesia da Madalena.
[4] Vastíssima propriedade que abrangia grande parte do que depois seria o município de Victória do Mearim. A sede da propriedade, ao que tudo indica, ficava no lugar de Santa Cruz, hoje pertencente ao município de Conceição do Lago de Açu criado em 1997 após desmembrar-se do de Victória. http://pt.wikipedia.org/wiki/Vit%C3%B3ria_do_Mearim (Mar 2015).
[5] http://www.hpip.org/Default/pt/Homepage/Obra?a=1499. (Set 2014).
[6] AHU_CU_009, Cx. 3, D. 352, Consulta do Conselho Ultramarino ao rei D. João IV, sobre a petição do mestre de campo, André Vidal de Negreiros, nomeado governador do Maranhão, para que António Teixeira de Melo, João Pereira de Cáceres e Baltazar de Sousa Pereira o substituam no governo do Maranhão enquanto não chegar o seu substituto para o Pernambuco. Lisboa, 27 de Novembro de 1654.
[7] João Felipe Bettendorff era luxemburguês nascido em 1625 e foi padre e missionário no Maranhão na época da revolta do Bequimão, in [Arenz, 2013, p. 271-322].
[8] Vale a pela ler na íntegra esta obra, interessantíssima. http://pt.scribd.com/doc/59548067/BAIAO-Antonio-Episodios-Dramaticos-da-Inquisicao-Portuguesa-Vol-II#scribd (Nov 2014).
[9] Aspectos Jurídicos da Condenação De Manuel Beckman http://www.webartigos.com/artigos/aspectos-juridicos-da-condenacao-de-manuel-beckman/129769/  (Dez 2014)
[10] Professor da Universidade Federal do Pará. Texto apresentado num Seminário no Centro de Estudos Religiosos da Universidade Católica Portuguesa em 25 de Maio de 2002.
[11] “O ser senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser servido, obedecido e respeitado de muitos”. [ANTONIL, 1711]. Os denominados "homens bons" ao longo do período colonial brasileiro eram os grandes proprietários de terras e de escravos e constituíam o que se pode chamar de classe dominante colonial. O seu poder económico podia também ser convertido em poder político na medida em que eram eles os responsáveis pela composição das Câmaras Municipais da sua área de influências. http://www.fcsh.unl.pt/cham/eve/content.php?printconceito=789 (Fev 2015)
[12] AHU_CU_009, Cx. 5, D. 567. Consulta do Conselho Ultramarino ao príncipe regente D. Pedro, sobre o requerimento dos irmãos Manuel Bequimão e Tomaz Bequimão, presos na cadeia da cidade de São Luís do Maranhão, em que solicitam que se lhes passe provisão para obterem alvará de fiança. Lisboa, 9 de Abril de 1672.
[13] AHU_ACL_CU_009, Cx. 5, D. 567. Requerimento dos irmãos Bequimão, 1672-04-29. Cotas Antigas: AHU_MARANHÃO, CX829 doc 54.
[14] AHU_CU_009, Cx. 6, D. 641. CONSULTA do Conselho Ultramarino ao príncipe regente D. Pedro, sobre a devassa levantada a Manuel Bequimão pelo governador Inácio Coelho da Silva, por comportamento desordeiro. Lisboa, 12 de Janeiro de 1680.
[15] Carta Régia de 24 de Janeiro de 1680. Barroso, Gustavo, História Secreta do Brasil, 1.ª parte (1500-1831), 1937, p. 82.
[16] Posteriormente expulso de São Luís, por Manuel Beckman, depois da Levantada do Bequimão.
[17] Vigário da Igreja Matriz da cidade de São Luís, AHU_ACL_CU_009,Cx.9,D.934 1697-01-08.
[18] Que acabou sendo preso e mandado para o Reino em 4 de Maio de 1691. AHU_CU_009, Cx. 8, D. 832. Consulta do Conselho Ultramarino ao rei D. Pedro II, sobre o provimento do padre José Gonçalves Golarte na igreja matriz do Maranhão, em substituição ao padre Inácio da Fonseca e Silva, que fora preso e enviado para o Reino. Lisboa, 4 de Maio de 1691.
[19] Sobre quem tinha havido discórdia sobre uma nomeação, entre Manuel Beckman e Inácio Coelho da Silva, que tinha sido expulso aquando da Levantada, mas que agora ocupava o posto de capitão-mor do Maranhão. Vítor Maciel era filho do famigerado Bento Maciel Parente, o maior exterminador dos índios do Maranhão.
[20] AHU_CU_009, Cx. 4, D. 462, Certidão (anexo) de Manuel de Carvalho, em que certifica os direitos de Jorge Sampaio, no ofício de escrivão de Ouvidoria. Lisboa, 14 de Novembro de1662. Jorge de Sampaio já tinha desentendimentos com os Jesuítas como se pode ver pelo seguinte requerimento. AHU_CU_009, Cx. 4, D. 455, Requerimento do procurador e de religiosos da Companhia de Jesus do Maranhão para o rei D. Afonso VI, sobre os requerimentos feitos pelo procurador do povo do Maranhão, Jorge de Sampaio de Carvalho, contra os ditos missionários, e os papéis do padre António Vieira. De 19 de Agosto de 1662.
[21] Por Thais Pacievitch in http://www.infoescola.com/historia/revolta-de-beckman/
[22] Provisão em forma de Ley sobre a liberdade dos Indios do Maranhão e forma em que devem ser admenistrados no espiritual pellos Religiosos da Companhia e os das mais religiões de aquelle Estado, 12 de Setembro de 1663, Anais da Biblioteca Nacional, vol. 66 (1948), p. 29-31.
[23] Que os Padres Missionários do Estado do Maranhão Representaram a Sua Majestade, valendo-se do prestígio do Padre António Vieira e de outros jesuítas junto dos poderosos igualmente comprometidos pelos mesmos interesses.
[24] Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_015, Cx. 13, D.1291
[25]. Blog “Gente da Nossa Terra”, tendo como fonte a Enciclopédia Abril Cultural – 1977. http://www.gentedanossaterra.com.br/beckman.html (Mar 2015)
[26] Bequimão, como era popularmente chamado, foi conduzido pelo desembargador em processo sumário. Foi condenado à morte na forca, juntamente com seu companheiro revoltoso Jorge de Sampaio de Carvalho, execução que se deu ou no dia 2 ou 10 de Novembro do ano de 1685, na chamada Praia do Armazém, em São Luís, ordenada pelo Governador, “onde depois de convulsas contorções aos poucos foi-se amortecendo até à paralisação total”in [Coutinho, 2004].
[27] O outro líder foi Jorge Sampaio. In http://sweepsofday.blogspot.pt/2010/12/paper-sobre-manuel-beckman-bequimao.html (Março 2015).
[28] AHU_CU_009, Cx. 6, D. 729, CARTA do governador do Estado do Maranhão, Gomes Freire de Andrade, para o Conselho Ultramarino, sobre a execução dos culpados no levantamento ou revolta encabeçada por Manuel Bequimão e Jorge de Sampaio de Carvalho. São Luís do Maranhão, 15 de Novembro de 1685. AHU_CU_009, Cx. 6, D. 730, CARTA do sindicante Manuel Vaz Nunes para o Conselho Ultramarino, dando conta da execução de Manuel Bequimão e Jorge Sampaio de Carvalho, culpados no levantamento do Maranhão. São Luís do Maranhão, 15 de Novembro de 1685.
[29] AHU_CU_009, Cx. 6, D. 732, CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. Pedro II, sobre as diligências realizadas pelo desembargador Manuel, como sindicante no Estado do Maranhão, relativamente à revolta chefiada por Manuel Bequimão e Jorge de Sampaio de Carvalho. Lisboa, 24 de Novembro de 1685.
[30] Ver sobre o que escreve o sindicante do Maranhão Manoel Vaz Nunes acerca de remeter presos a este Reino. O Thomaz Bequimão e Eugénio Ribeiro Maranhão com o treslado da devassa que se tirou do levantamento dos moradores da cidade de S. Luiz. 12 de Fevereiro de 1686. AHU, códice 274, fls. 45‑45v.
[31] http://www.consciencia.org/o-estado-do-maranhao-a-colonizacao-do-brasil/3 (Nov 2014).
[32] https://www.algosobre.com.br/biografias/manuel-e-tomas-beckman.html (Março 2015)
[33] AHU_CU_009, Cx. 6, D. 735, Consulta do Conselho Ultramarino ao rei D. Pedro II, sobre a execução dos culpados pelo levantamento dos moradores da cidade de São Luís do Maranhão. Lisboa, 12 de Fevereiro de 1686.
[34] https://www.algosobre.com.br/biografias/manuel-e-tomas-beckman.html (Março 2015)
[35] http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=168319_02&PagFis=7288 Texto de António P. Barbosa de Godois.
[36] Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_CU_003, Cx. 3, D. 290.
[37] Family Search, Brasil, São Luís Maranhão, Maranhão, casamentos, 1707-1780, p. 15 (imagem 24).
[38] APE, liv. reg. geral anos 1803-1805 in [Coutinho, 2005, p. 211].
[39]  Veja-se http://pt.wikipedia.org/wiki/Odorico_Mendes (Dez 2014).
[40] [CDMPJM] p. 111, 112, 115, 122, 138 (1867), 161 (1873), 198 (1882).
[41] AHU_CU_009, Cx. 114, D. 8870, Documento fragmentado relativo ao pagamento de côngrua ao cónego José João Beckman e Caldas, a ser efectuado pela Junta da Fazenda Real da capitania do Maranhão. 1800. AHU_CU_009, Cx. 174, D. 12642, Requerimento do sacerdote José João Beckman e Caldas ao rei D. João VI, solicitando passaporte para se deslocar ao Maranhão. Post. A 10 de Junho de 1823.
[42] http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=168319_02&PagFis=1685
[43] http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=168319_02&PagFis=20267
[44] http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=168319_02&PagFis=1182
[45] Que posteriormente foi propriedade de Tomás Beckman & Filhos, na Rua 7 de Setembro.
[46] http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=168319_02&PagFis=10196
[47] http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=168319_02&PagFis=789
[48] http://www.al.ma.leg.br/busca.php?palavra=medalha+manuel+beckman (Abril 2015)

 

A ligação Portuguesa


As ligações algarvias dos Beckman

III

Descendência de Catarina Beckman


Irmã de Manuel e Tomás Beckman.
Catarina Bequeman, foi b. a 21 de Novembro de 1640[1] na freguesia da Conceição Nova em Lisboa e casou com Francisco Correia da Silva com descendência no Algarve e Lisboa.

Assento de baptismo de Catarina Bequeman
Quem era Francisco?


Francisco Correia da Silva nasceu em Tanger a 5 de Junho de 1644[2] sendo padrinho o adail (cabo de guerra) Rui Dias da Franca. 

Antes de passar à descendência de Catarina e Francisco referiremos a dos irmãos de Francisco e a respectiva ascendência.

Francisco era filho de Manuel de Carvalho que casou a 9 de Novembro de 1642[3] na Sé de Tânger com Maria de Sousa Bassém de quem não temos confirmação de ter nascido, ou em Lisboa ou em Tânger. Este casamento de Maria de Sousa só durou 5 anos pois, ficando viúva, volta a casar ainda em Tânger a 14 de Julho de 1647[4] com Manuel de Azevedo Leitão, natural de Pontével, Santarém, de que houve descendência, os irmãos de Francisco, portanto cunhadas e cunhado de Catarina Beckman.

Como os dois casamentos de Maria de Sousa Bassém foram muito próximos e não temos as datas de nascimento de todos os filhos, há dúvidas relativamente a duas das suas filhas.



Veja-se Esquema II. Uma delas foi:



Joana de Sousa e Bassém, irmã de Francisco Correia da Silva, casou com uma figura importante no meio financeiro português. Jorge Ferrão Ribeiro foi um capitalista a quem D. Afonso VI a 2 de Dezembro de 1679, arrendou por quatro anos a Casa da Moeda de Lisboa a Jorge Ferrão Ribeiro e outros[5], obrigando-se estes a dar em cada ano 4:500$000 réis pelo rendimento da dita casa, comprometendo-se a lavrar no prazo estipulado 400.000 cruzados em prata, desde tostões até vinténs, e 40.000 cruzados de cobre nas chapinhas, conforme os padrões, vindos do estrangeiro livros de direitos para se fazer a cunhagem no reino. Este contrato foi aprovado por alvará de 13 de Março de 1680 [Aragão, 1875, Vol. I, p. 61]. Havendo Jorge Ferrão Ribeiro terminado o tempo por que arrematara os direitos de moedagem fez-se novo contrato em 21 de Maio de 1684 com Gaspar da Silva e Alexandre Pimenta que se obrigaram também ao fornecimento do ouro e da prata sendo estes metais lavrados pelos oficiais da casa da Moeda e conforme o seu regimento como se fosse por conta da fazenda [Aragão, 1875, vol II, p. 53]. Joana e Jorge foram pais de, pelo menos, Isabel Ferroa Bassém Ribeiro que por, eventualmente ser única descendente, recebeu alvará de propriedade de ofício[6] e pouco depois outro alvará para nomear serventuário[7]. Isabel casou com Neutel de Castro Meneses, fidalgo escudeiro[8], moço fidalgo[9] e capitão de infantaria no presídio de São Lourenço no Funchal[10], filho de Aires Lima Telles e Mariana de Meneses[11]. Provavelmente com descendência.



Brites de Sousa Bassém, de quem não sabemos a data de nascimento nem a de casamento, este última informação pelo estado deplorável em que se encontram os livros de assento desse intervalo de datas, mas que casou entre o ano 1671 e 1672, provavelmente em Lagos, com João Represo de Matos Leote, filho de António Tavares Leote (irmão mais novo do Grande Capitão Francisco Leote Tavares) e de seu 3.º casamento[12] com Margarida de Sousa de Matos[13] com quem tinha casado em Lagos em 1651, neto paterno de Gaspar Leote e Maria Tavares ambos de Tânger, e neto materno de João Represo de Matos e de Brites de Vilalobos de Sousa. Este casal foi pai de outro António Tavares Leote que casou com Maria de Sousa, sua prima, pais de 11 filhos e que serão responsáveis por quase toda a descendência Leote e de outro Francisco Correia da Silva que casou com Maria Teresa Saraiva da Silva, pais de 5 filhos.

A mais nova daqueles 11 filhos foi Francisca Xavier de Sousa Bassém e irá casar com seu primo em 3.º grau, Francisco Correia da Silva, como se verá.



Isabel de Sousa Bassém, n. a 11 de Outubro de 1648 em Tanger, portanto, filha de Manuel de Azevedo Leitão, casou com Gregório Aranha Freire natural de Lagos, Santa Maria, onde nasceu a 1 de Outubro de 1645.
Isabel teve vários filhos, mas lamentavelmente não conseguimos averiguar a informação completa sobre a sua descendência uma vez que os livros de assentos de baptismo de Santa Maria de Lagos faltam no intervalo de 1665 a 1677. Desses filhos alguns morreram recém-nascidos ou na infância, como Manuel (1678) e dois chamados João (1681 e 1683) e outros na puberdade como Joana (1688-1702) e Lourenço Anes de Sousa que provavelmente testemunha o casamento de sua irmã Leonor onde assina de quem não encontrei data de nascimento mas que é referido em conjunto com o pai num baptizado em 1684 e de quem não se houve mais falar. Por fim Leonor de Sousa Bassém para quem é dada a data de nascimento de 26 de Abril de 1678, mas sem fonte[14], (o que é manifestamente contraditório com a data de nascimento de seu irmão Manuel essa sim com a respectiva fonte confirmada), Leonor essa de quem se falará adiante por ter casado como seu primo irmão Manuel Correia da Silva.


Voltemos a Catarina.

O casamento de Catarina Beckman e Francisco Correia da Silva realizou-se na paróquia da noiva, Conceição Nova de Lisboa, a 16 de Julho de 1667[15].
Antes de passar à descendência de Catarina é necessário esclarecer que não se conseguiu encontrar o assento de baptismo de Brites de Sousa Bassém pelo que não se sabe qual é o o pai, se Manuel de Carvalho ou se de Manuel de Azevedo Leitão. Com alta probabilidade será do segundo. Sendo assim será meio-irmão de Francisco Correia da Silva e portanto, cunhada de Catarina Beckman.
Casamento de Catarina Beckman e Francisco Correia da Silva

No assento de casamento diz-se que ele era natural de Tânger e que era, à data do casamento, morador na Freguesia de Santa Ana (Pena), em Lisboa e que foram padrinhos Jerónimo de Freitas de Sequeira e Francisco Banha de Sequeira, (irmãos e filhos casados de Simão Banha de Sequeira e de Margarida Velles da Silveira, tudo gente de Tânger sendo Jerónimo de Freitas de Sequeira tenente-general, estribeiro-mor da rainha e comendador da Ordem de Cristo).

Francisco Correia da Silva teve foro de escudeiro e cavaleiro[16], foi Cavaleiro da Ordem de Cristo, da principal nobreza de Tânger, Capitão de Infantaria de Lisboa, Escrivão Proprietário dos Cavaleiros e Comendas do Ribatejo [Côrte-Real, 2003, p. 123] e Tesoureiro da Chancelaria das Ordens Militares[17]. Foi-lhe feita mercê a 19 de Julho de 1666 (fls. 438) do Hábito de Cristo e promessa de dois ofícios de justiça ou fazenda pelos serviços prestados[18].
Do casamento de Francisco Correia da Silva e Catarina Beckman houve:

(1) Manuel Correia da Silva, que segue em IIIa, nascido e batizado em casa pelo padre António Rodrigues Jerónimo na freguesia de São Cristóvão e São Lourenço, em Lisboa, a 10 de Junho de 1668[19] assistindo aos exorcismos o Conde Regedor Luís da Silva Telo [de Meneses]. Ora, é curioso o facto de este conde regedor (2.º Conde de Aveiras) ser proprietário do cargo de regedor da Casa da Suplicação. O seu pai, Lourenço da Silva, 1.º Conde de Aveiras, já o tinha sido[20]. Ora o tio do neófito, André da Costa Vilalobos, era lá advogado. Coincidência?
Assento de baptismo de Manuel Correia da Silva
 Houve ainda:

(2), Leonarda, também filha de Francisco Correia da Silva e Catarina Beckman, que é batizada a 10 de Fevereiro de 1670[21] mas em cujo assento se diz que sua mãe já era falecida com se comprova no assento de óbito de 5 de Fevereiro anterior[22]. Veja-se o assento de Leonarda. 
Assento de baptismo de Leonarda, filha de Catarina Beckman
 A mãe morreu, presumivelmente, de complicações do parto. Como nota curiosa o assento informa que Catarina faleceu no adro da igreja de São Cristóvão sendo enterrada na mesma. Verifiquei o livro de óbitos até ao fim de Abril de 1693 e nada mais consta. Veja-se o óbito de Catarina.
Óbito de Catarina Beckman

Segundo as informações dos arquivos da família Leote[23], Francisco Correia da Silva casa um total de três vezes, sendo que a segunda vez foi com Catarina Pejser Henriques de quem houve uma filha Brígida Maria ou Brígida Maria da Silva e presumivelmente uma terceira que não nomeia nem a esposa nem a hipotética descendência.



Vejamos agora a descendência de Manuel Correia da Silva em IIIa.




[1] ANTT, Lisboa, Conceição Nova, M-8-29, imagem 33.
[2] BN, Registos Paroquiais, Sé de Tânger, Códice 1575, p. 216v, 2.º.
[3] Rodrigues, Registos Paroquiais Sé de Tânger, Casamentos, p. 357, 1.ª.
[4] Rodrigues, Registos Paroquiais Sé de Tânger, Casamentos, p. 396, 3.ª.
[5] Arquivo da Casa da moeda de Lisboa, Registo Geral, Livro 1, fol. 410v e 412.
[6] PT/TTRGM/B/12/10543, RGM D. Pedro II, livro 12, f.3 Alvará, propriedade de ofício. Filiação Jorge Ferão Ribeiro. (8 de Julho de 1698).
[7] PT/TTRGM/B/12/10544. RGM D. Pedro II, livro 12, f.3 Alvará, para nomear serventuário. Filiação Jorge Ferão Ribeiro. (30 de Agosto de 1700).
[8] PT/TT/RGM/C/0017/50320. RGM, D. João V, Livro 17, f. 209. Alvará. Foro de fidalgo escudeiro. 13 de Abril de 1745.
[9] PT/TT/RGM/C/0017/50319. RGM D. João V, Livro 17. F. 209.Alvará. Foro de Moço Fidalgo. Filiação: Aires Teles de Meneses. 18 de Março de 1745.
[10] PT/TT/RGM/C/0017/50266. RGM, D. João V, Livro 17, f. 203.Alvará. Capitão de Infantaria no Presídio de S. Lourenço no Funchal. Filiação: Aires Teles de Meneses.
[11] Francisco Telles de Meneses, José Telles de Meneses e Álvaro de Lima Telles foram cunhados de Isabel Ferroa Bassém Ribeiro.
[12] João Represo Tavares Leote foi o único filho sobrevivente deste 3.º casamento de António Tavares Leote. Ainda nasceram dois Gaspar em 1655 e 1658 mas de quem não temos notícia.
[13] Margarida depois de enviuvar de António ainda voltou a casar uma 3.ª vez com o licenciado João Dias Ribeiro de quem teve, pelo menos, três filhos, Lourenço Anes de Sousa, Laurência de Jesus e Brites de Sousa.
[14] Informação no portal Geneall mas que não refere a fonte. Não existem livros com assentos de baptismo em Santa Maria de Lagos para essa data pelo que não consegui confirmar. Ainda assim fica aqui a nota.
[15] Aos dezasseis de Julho às cinco horas da tarde recebi por marido e mulher a Francisco Correia da Silva filho de Manuel de Carvalho e de Dona Maria de Sousa da cidade de Tânger com Dona Catarina Bequimans filha de Tomás de Bequimão e de Leonarda das Neves desta freguesia naturais e ela baptizada e moradora  e ele na Sé de Tânger e era morador na freguesia de Santa Ana. Foram testemunhas Jerónimo de Freitas de Sequeira, Francisco Banha de Sequeira, o cura Francisco de Barbosa (?) ANTT, RP, Conceição Nova, C2_m0679 (PT-ADLSB-PRQ-PLSB56-002-C2_m0679 C)
[16] Alvará a Francisco Correia da Silva, natural de Tanger, filho de Manuel Carvalho da Silva, dos foros de escudeiro e cavaleiro com 700 réis de moradia por mês e 1 alqueire de cevada por dia; pelos serviços ali prestados. De 3 de Janeiro de 1663.
[17] FHL, M19. Por carta de 13 de Novembro de 1675 foi nomeado Tesoureiro das Chancelarias, Capitão de infantaria, L.º 80 ou 8v. (?).
[18] Mercê a Francisco Correia da Silva, natural de Tanger, e filho de Manuel de Carvalho, de 40.000 réis de tença efectiva com o Hábito de Cristo e promessa de dois ofícios de justiça ou fazenda para as pessoas que casarem com duas das suas filhas, pelos serviços que prestou em Tânger e suas fronteiras com armas e cavalos, acudindo, sem faltar nas guardas e vigias, rebates e socorros, contra os mouros, achando-se no reino na recuperação de Évora e por lhe pertencer a acção dos serviços do seu padrasto, Manuel de Azevedo Leitão feitos na mesma cidade de Tânger. ANTT, Portarias do Reino, Livro 5, p. 213.
[19] ANTT, Lisboa, São Cristóvão e São Lourenço, B-01-16, 3.ª (20.tif). Confirmando o baptismo pelo prior Diogo Mendes Pinheiro.
[20] Foi alcaide-mor de Lagos, capitão-mor do Algarve http://autoridades.arquivos.pt Telo de Meneses. Família, Conde de Aveiras.
[21] ANTT, Lisboa, São Cristóvão e São Lourenço, B-1 imagem 25.
[22] ANTT, Lisboa, São Cristóvão e São Lourenço, O-1 imagem 94.
[23] FHL, M19n2.

 IIIa

Manuel Correia da Silva foi filho de Francisco Correia da Silva e Catarina Beckeman

(Texto a ser revisto)

 IV

Descendência de Juliana Beckman



Irmã de Manuel e Tomás Beckman.


No assento se diz que nasceu também na Freguesia da Conceição Nova de Lisboa. (ANTT https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4822295 tif 855.)

Origem tangerina dos Garcia de Vilalobos. (Agradeço a José António Moreira Rodrigues a contribuição da data de nascimento de André da Costa de Vilalobos.)

Assento de Batismo de André filho de Garcia de Burgos de Vilalobos e de Isabel Roddrigues da Esperança, na Igreja de Santa Maria do Castelo em Tavira, Algarve


As ligações com as oligarquias tangerinas repetem-se nesta ligação à semelhança do que se tinha passado com a sua irmã Catarina Beckman.

Juliana casou com o doutor André da Costa Vilalobos, (que apadrinhou sua sobrinha Leonarda, acima), advogado na casa da suplicação[1] em Lisboa e vivia na freguesia de São Julião[2], também em Lisboa. É muito provável que tenha sido em casa desta irmã que se alojou Tomás Beckman quando veio a Lisboa defender a Levantada no Maranhão.
Juliana e André foram pais de, pelo menos, três filhos:

Dr. Tomás Bequeman, frade Teatino, natural de Lisboa, e baptizado na paróquia da Madalena a 30 de Janeiro de 1660[3]. Professou o sagrado instituto dos Clérigos Regulares Teatinos a 10 de Março de 1680 no convento da sua pátria, onde exercitou o ministério de Orador Evangélico com geral aceitação.
São Caetano de Tiene, (Tiepolo) fundador.

Devido a sofrer de uma falta de vista aguda e evitando dar esse facto a conhecer recorria a outros religiosos que lhe fizessem as leituras que rapidamente memorizava aparentando assim conseguir ler. Por isso, passou a Itália onde aprendeu na cidade de Florença a Óptica de um insigne professor desta ciência, na qual saiu eminente fabricando com suma perfeição óculos de ver ao longe e ao perto. Faleceu na pátria a 9 de Maio de 1729 quando contava 69 anos de idade e 49 de religião [Machado, 1752, p. 741]. Foi autor de (1) Ramalhete de Nove Açucenas, Lisboa por Miguel Deslandes impressor d’El-Rei 1685.8. He novena de S. Caetano, traduzida da língua italiana do P. Paulo de Juliis clérigo regular. Saiu com o nome do tradutor; (2) Sermão da gloriosíssima Virgem Maria Senhora nossa com o título da Divina Providência, pregado na Dominga segunda post Epifania, 14 de Janeiro de 1691, ibi pelo dito impressor 1691.4; (3) Sermão Segundo da Gloriosíssima Virgem Maria Nossa Senhora com o título da Divina Providência, pregado na sexta da Irmandade das Escravas na Dominga Segunda post Epifania a 15 de Janeiro de 1696. ibi pelo dito impressor 1696, entre outros. Foi autor da segunda tradução de Combate Espiritual, de Lourenço Scupoli. Foi ainda autor da obra de referência em óptica Tratado em que se ensina com doutrinas especulativas, e práticas toda a sorte de lavrar vidros, cameras escuras, lenternas (sic) mágicas, e outras curiosidades dignas de se saberem dos que têm propensão à arte óptica [Boletim da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, História da Oftalmologia Portuguesa, Augusto da Silva Carvalho, 2013, p. 22.]

Maria Catarina Bequeman, outra filha de Juliana Beckman, tomou no nome religioso de soror Catarina Maria do Sacramento, foi abadessa do Convento de Nossa Senhora da Soledade[4] (Convento das Trinas de Mocambo, Lisboa). Em Junho de 1678 pretendeu provar a limpeza de sangue de sua geração. 
[ANTT Mesa da Consciência e Ordens, Habilitações para a Ordem de Cristo, Letra G, mç 6, n.º 59]

Garcia de Burgos Vilalobos, outro filho de Juliana Beckman, era estudante em Coimbra em 1674. Goes refere o nome de Doutor Garcia de Burgos Villalobos, que era morador defronte da igreja de S. Mamede [Goes, 1732, p. 318/319]. A informação disponível não indica o nome da pessoa com quem casou mas informa que houve dois filhos. 
(1) André Burgos de Vilalobos, Juiz do Cível na Corte [Oliveira, 1901, p. 141].
(2) José Burgos de Vilalobos[5] foi Juiz de Fora no Crato e Juiz de Fora da vila de Mourão conforme nomeação de 28 de Outubro de 1709[6]. Cavaleiro da Ordem de Cristo conforme carta de 11 de Novembro de 1728[7]. Na carta de nomeação do cargo seguinte diz‑se que a sua carta se registou no registo 1.º da creação do dito cargo[8], e nela se diz que servindo com boa satisfação teria um lugar sem concurso na Relação do Porto. Os escrivães nomeando-o desembargador nos autos judiciais obraram o grande prodígio de fazer existir o futuro, porque nem no futuro sucedeu pois o mesmo ministro morreu naquela vila em 1737 [Sequeira, 1850, p. 149]. De facto foi para o Brasil onde José de Burgo de Vilalobos é referido como Ouvidor. Talvez por ser o primeiro a ocupar esse cargo, a sua chegada a Cuiabá não foi recebida com aplausos pela Câmara [JESUS, 2009, p. 4] e polarizou os maiores da população, pois houve quem se lhe arrimasse na tentativa de defender os seus futuros interesses, ou quem fosse contra ele pela posição arrogante que assumiu como detentor do poder absoluto. Referem-se a ele como Ouvidor, que tinha sido encarregado pelo monarca da criação desse cargo de ouvidor nessa capitania onde tinha chegado nos princípios do ano de 1731. [Sequeira, 1850, p. 145, 149] data aproximada que é confirmada quando nos Anais se diz que José de Burgos Vilalobos chegou a Cuiabá no fim do ano de 1730[9].
 É referido nos seguintes cabeçalhos: Em seguida dá-se conta da nova lotação dos ofícios de justiça feita pelo Ouvidor Geral de Minas, José de Burgos Vilalobos; ou ainda Carta de Diligência do Ouvidor Geral de Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá, José de Burgos Vilalobos[10]. Ainda o era em 1731 ano em que escreve a D. João V sobre as mortes causadas pelo gentio Parecí que impedia a continuação do descobrimento do ouro onde, curiosamente, se escutam as próprias palavras: Como esta nasção dos Parasis he menos barbara ainda que despois de domesticados tem alguns fugido e morto a seus admenistradores, o que tem acontecido muitas vezes nas Rossas do destrito destas minas, onde se acha muito grande numero desta gente, que se apanharaõ em bandeiras, sem outro justo titullo, e se occupaõ no cultivo das Rossas, por cuja cauza hâ abundancia de mantimentos. Diz ainda, as nasções do gentio que confinaõ com estas dos Parasis saõ cruellissimos, e comem carne humana, e andão huns com outros em continua guerra: e por estas hostelidades devia todo o gentio ser cativo[11]. Entrou em conflito com o superintendente da Real Fazenda, Tomé Ferreira de Morais Sarmento, obrigando-o a retirar-se de Cuiabá[12]. Foi tão duro nas execuções fiscais que através de execuções, fez com que em 1732 desertassem de Cuiabá mais de 2.000 pessoas, do que resultou grande decréscimo dessa arrecadação, fato pelo qual foi até denunciado ao Governo de Lisboa [Póvoas, 1995, p. 94]. E para finalizar, uma queixa do Provedor da Fazenda Sá Queiroga, que diz que José de Burgos de Vilalobos era na verdade possuidor de índios administrados e, contrariando ordens régias, se recusava a fazer a matrícula dos mesmos e a recolher o imposto sobre eles devido [Morgado 2007, p.58]. Apesar de tudo deixou obra feita: poz os seus cuidados não só na arrecadação das Fazendas da Coroa, e dos Defuntos e Ausentes, mas na construção das Casas da Câmara, Cadêa, e sua residência que fez erigir [Araújo, 1822, p. 47,48]. No entanto os seus opositores e detractores não se coibiram de enviar queixas sendo acusado de ter desviado as rendas da fazenda real, não ter pago as taxas de entradas, ocultado por um ano a carta referente ao pagamento do donativo real, alterado os rendimentos dos ofícios, cobrado erroneamente os quintos dos gentios, arrecadado com violência as fazendas dos defuntos e ausentes e empregado indevidamente o escrivão da ouvidoria, dentre outras movimentações envolvendo seus parciais [JESUS, 2011, p. 6,7]. José de Burgos Villalobos é dado como falecido na vila de Cuiabá em 5 de Abril de 1736 [Sousa, 1977, p. 23,25][13]
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Uma nota curiosa é o que se lê na cota marginal do assento de óbito de Catarina Beckeman. O que se vê, na imagem acima, é o que está fotografado pelo que a sombra tapa parte do que foi escrito. Consegue ler-se sem qualquer dúvida os nomes Bequimans Garcia. Provavelmente um sobrinho da falecida fiho da irmã Leonarda.

É muito provável que haja (mais) descendência deste ramo Costa Vilalobos, quer em Portugal quer no Brasil. É de notar que Manuel Inocêncio Beckman (filho de Tomás Beckman, conjurado da Revolta de Bequimão) casa em 1711 com Maria Juliana Vilalobos, filha do Capitão André da Costa Silva e de sua mulher Juliana da Costa como consta do assento. Ora todos estes nomes são semelhantes, senão idênticos, aos que referimos aos filhos de Tomás Beckman. Coincidência? Provavelmente os noivos eram primos irmãos ou primos em segundo grau apesar de não virem referidas as dispensas. Haveria que investigar!


[1] FHL M19n2.
[2] Lamentavelmente só existem livros de assentos posteriores ao terramoto.
[3] Conforme se disse, não existem livros de assentos por terem sido destruídos no terramoto.
[4] http://digitarq.arquivos.pt/details?id=4224414  https://digitarq.arquivos.pt/details?id=7687595 
[5] No "livro", Inventário da Colecção Jorge Moser, datilografada em Lisboa, 1974, oferecido à Biblioteca Nacional, a p. 23 consta no item 345, "José Burgos de Vilalobos" carta de Martinho, 1723. No verso, a cópia do testamento de Duarte Pacheco de Araújo, (1 doc.).
[6] PT/TT/RGM/C/0003/50468, RGM, livro 3, f. 405v.
[7] PT/TT/RGM/C/0003/50469, RGM, tença de 12$000 rs de tença com o hábito.
[8] Criado a 29 de Março de 1729 por D. João V.
[9] Anais da Biblioteca do Brasil, 1881, Volume 8, pág. 93
[10] Revista do Instituto Geográfico Brasileiro, 1957, p. 43, 56.
[11] AHU, Mato Grosso, cx. 01, doc. 52.
[12] Carta de Thomé Ferreira de Moraes Sarmento Discorrendo Sobre as Desavenças com o Ouvidor José de Burgo VillaLobos nas Minas de Cuiabá, (20 de Julho de 1731) fundo ACBM-IPDAC, Pasta 1777, n.º 9-A transcrita in Santos, 2014, p. 23.
[13] Esta fonte faz um total de 25 referências a José de Burgos de Villalobos.

Epílogo

Ainda há muito que investigar. Pode ser que algum estudioso ou amador de genealogia e descendente destas linhas queira continuar as buscas. Todos os anos mais documentos são disponibilizados para consulta através da internet o que facilita de sobremaneira esse trabalho. No entanto isso não dispensa a consulta de documentos de uma forma presencial pois não só nos damos conta do tempo que passou como temos a oportunidade de manusiar documentos que, literalmente, passaram pelas mãos de pessoas próximas dessas que investigamos, em tempos recuados.
Caso hajam afirmações ou conjeturações menos certas ou mesmo erradas agradeço a quem teve a paciência de chegar até aqui que me escreva umas linhas e que deixe a corrigenda. Será prontamente introduzida. Saudações!

“Beyond the past and the future, there is the family historian role itself, performed and enjoyed in the present and among the living. It is this role which ties together many of the reasons for doing genealogy.” Ronald D. Lambert, University of Waterloo, Ontario, Canadá. ("Para além do passado e do futuro, há ainda o papel do historiador da família, feito e disfrutado no presente e entre os vivos. É este papel que une muitas das razões para fazer investigação genealógica.")


FIM